Na primeira semana de sua gestão, em janeiro deste ano, o prefeito João Doria (PSDB) fez um mutirão para limpar a praça 14 Bis no centro de São Paulo. Durante o processo, ele também retirou da praça pessoas em situação de rua e as realocou provisoriamente em uma quadra poliesportiva que fica embaixo de um viaduto na avenida Nove de Julho. A ocupação foi crescendo e tomou uma segunda quadra poliesportiva, o que vem impedindo crianças e adolescentes de praticar esportes em um bairro carente de espaços públicos.
Nove meses depois, a situação não apenas não foi resolvida como se agravou, a ponto de criar um clima de tensão entre dois grupos: o dos sem-teto, que dizem que só sairão se tiverem um lugar melhor para ir, e o dos moradores, comerciantes e empresários do bairro, que querem a desobstrução de seus espaços de esporte e lazer.
Os dois lados já dão sinais de revolta.
“O João Doria colocou o pessoal aqui, ele tem que encontrar uma solução pacífica para tirar”, disse José Antônio Moreno, um ex-presidiário que hoje trabalha com reciclagem e tem um barraco na ocupação.
“Estamos cansados de promessas, promessas e promessas, queremos ação”, disse o empresário Maicon Ferreira, que vive em um apartamento próximo à área ocupada.
O grupo de moradores, comerciantes e empresários se articula para fazer uma manifestação nos próximos dias para chamar a atenção da prefeitura.
Ao tirar os sem-teto do entorno da praça e os alojar nas quadras, a prefeitura prometeu que em até 90 dias os encaminharia a abrigos municipais. Também prometeu que lhes ofereceria trabalho para que pudessem pagar por moradia fixa. Apenas 11 pessoas conseguiram emprego, através do programa Trabalho Novo, segundo a própria prefeitura. “A solução vai ser o João Doria cumprir o que ele prometeu”, disse Emerson Aguiar, um dos sem-teto que ocupam as quadras poliesportivas, antes usadas por um time do bairro.
Em reuniões com representantes da prefeitura, o grupo formado por moradores, empresários e comerciantes do bairro tem pleiteado a construção de um playground, uma academia para a terceira idade e uma quadra poliesportiva embaixo do viaduto. Segundo eles, em uma dessas reuniões, a prefeitura regional da Sé se comprometeu a entregar os equipamentos até agosto.
Como isso não aconteceu, os ânimos se exaltaram. Em uma acalorada reunião na última semana em um condomínio da região, os insatisfeitos planejavam fechar o trânsito da av. Nove de Julho, importante via no centro da cidade.
Em janeiro, o UOL Esporte publicou uma reportagem mostrando que o programa de zeladoria urbana Cidade Linda, recém-inaugurado, tinha danificado uma das quadras. Na ocasião, a quadra ainda estava liberada e os adolescentes ainda podiam jogar. Meses depois, ela acabou ocupada por outras famílias de sem-teto, desalojando a equipe.
Em um e-mail enviado à redação no dia 6 de janeiro, a prefeitura dizia que sua expectativa era que as pessoas fossem encaminhadas a vagas de acolhimento, moradia e emprego “o mais breve possível”.