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Alisson tem o gol no DNA desde o bisavô; a família nunca foi ao ataque

A série de reportagens do Tino Marcos com os jogadores da seleção traz nesta segunda-feira (21) a história de um goleiro.

Feitas com muito amor. Ela, a chuteira que naqueles velhos tempos surgia das mãos do tio Paulo. E ela, dez anos depois: a fofura que surgiu da união de Alisson e Natália.

Essa história começa em Novo Hamburgo, a menos de 50 quilômetros de Porto Alegre.

“Uma cidade de sapateiros, podemos dizer assim, de muitas fábricas de calçado”, conta Alisson.

A profissão do pai era fazer moldes de calçados. O tio concebia as chuteiras.

“Por muitos anos ali, quando a gente jogava na categoria de base, ele que fazia nossa chuteira. Chuteirinha de couro, mas era muito boa, muito confortável, diga-se de passagem”.

É uma família rara, não só porque faz chuteiras nem porque faz jogador de futebol, mas jogadores de futebol, mais exatamente…

“Goleiro”, diz Alisson.

“Goleiros”, corrige a mãe Magali.

“Tem o DNA de goleiro, acho”, afirma José, o pai.

A família Becker nunca foi ao ataque.

“Só se defende”, ri Magali.
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O bisavô, goleiro do time da cidade, nos anos 40; a mãe jogou handebol, goleira também, e o pai, nas peladas. Desde cedo, ele ensinou aos filhos o que um goleiro precisa ter.

“Na minha opinião, o goleiro tem que ser meio maluco. Ele não pode ter medo”, ensina seu José.

São 54 anos e as mãos ainda firmes. É frequentador assíduo das peladas de fim de semana. Seu Zé. Para ele ser feliz, bastam um par de luvas e um par de filhos com luvas.

Cinco anos de diferença.

“Alisson, desde pequeno, sempre queria fazer aquilo que eu fazia. Aonde eu ia, ele queria estar”, diz Muriel.

“Tracei os mesmos caminhos, era como se ele tivesse na minha frente, tivesse deixado uma linha, um rastro e eu fui seguindo aquele caminho ali”, diz Alisson.

Muriel, goleiro da base do Internacional e da Seleção Brasileira. Alisson, idem, idem. Muriel já era titular do time de cima do Inter, quando o caçula se tornou reserva dele, e começaram a disputar posição.

“Os dois estavam em alto nível assim e goleiro só joga um”, afirma Muriel.

“A gente sempre falou para eles ficarem focados, que tudo ia terminar bem”, lembra a mãe Magali.

“Isso acabou aproximando eles mais ainda”, conta o pai, seu Zé.

“Eu entrei no momento de lesão dele, foi uma infelicidade dele”, diz Alisson.

Não saiu mais.

“Lógico que fiquei muito triste pela lesão dele, mas quando eu comecei a jogar, ele ficou feliz pelo meu momento”.

Rapidamente, Alisson virou destaque e, aos 23 anos, o Inter o vendeu para a Roma. A despedida seria no campeonato gaúcho de 2016. No estádio do clube, quase um templo para ele.

“Foram longos 12 anos ali dentro, mais da metade da minha vida eu passei dentro do Beira-Rio”, lembra Alisson.

Deu tudo certo.

“Foi depois de um título, ele sendo capitão, erguendo o troféu, muito emocionante”, rememora Muriel.

E ainda não era tudo. Dizem que goleiro é a posição mais solitária do futebol. Mas se esquecem da baliza, a companheira de sempre a ser defendida. No último dia do Alisson no Beira-Rio, o estádio do Internacional, ele e ela precisavam de alguns minutos a sós. A festa do título já tinha terminado.

“Quando a gente viu, a gente sentiu falta dele”, diz Magali.

“Vieram falar que o Alisson estava lá no campo”, completa Muriel.

Os filhos de Muriel que avisaram.

“Vó, o dindo tá lá na goleira chorando. Nossa, aquilo apertou o coração. Ele ficou um tempo pensando, conversando, chorou bastante”, lembra a mãe Magali.

“Depois, meu irmão veio junto. As crianças vieram junto também, a Duda e o Francesco. Foi um momento que eu levo no meu coração, vou levar pra sempre”, diz Alisson.

Levou para Roma o desejo de repetir o sucesso daquele início de carreira. Mas foi surpreendido com a reserva em quase todos os jogos na primeira temporada. Mesmo assim, foi mantido por Tite como titular da Seleção.

E, em 2018, como titular absoluto da Roma, tornou-se um dos goleiros mais elogiados da Europa. Tem a felicidade de ter como treinador de goleiros na seleção o ídolo da infância, também gaúcho e formado no Inter.

“Com certeza, é a cobertura do bolo. É muito mais fácil pra mim poder depositar minha confiança e acreditar no que ele fala, ele sendo o Taffarel”.

O filho caçula da família de goleiros já conquistou um título fora dos campos: o mais bonito do colégio.

“Ele, nos seus 14, 15 anos teve a escolha do garoto da escola, ele foi escolhido. Ele fez um book, foi chamado para algumas fotos”, conta Magali.

O tio Paulo, o fabricante das chuteiras artesanais. Desde aqueles tempos até hoje, marido de Natália, pai de Helena, Alisson é grato à vida, à família, às origens

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