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As turbulentas relações entre Estados Unidos e Venezuela desde Chávez

Paris, 23 Jan 2019 (AFP) – A Venezuela, que acusa Washington de ter ordenado “um golpe de Estado fascista”, e os Estados Unidos, que apoiam a oposição ao presidente Nicolás Maduro, cujo segundo mandato não reconhecem, mantêm turbulentas relações desde a chegada ao poder de Hugo Chávez em 1999.

– Nacionalizações -No poder desde fevereiro de 1999 até a sua morte, em 5 de março de 2013, o presidente socialista Hugo Chávez, que iniciou uma “revolução bolivariana”, lançou em 2001 uma série de nacionalizações, desde o setor petroleiro até o agroalimentar, passando pela grande distribuição. Esta “reapropriação” afetou vários grupos americanos, como ConocoPhilipps e Exxonmobil, provocando ações judiciais.

– Golpe de Estado frustrado, imperialismo criticado -As relações dos dois países pioraram profundamente durante uma tentativa de golpe de Estado frustrado em 2002 na Venezuela. Chávez acusou o presidente George W. Bush, o qual chamou de “diabo”, de ter apoiado a rebelião.

Os Estados Unidos viam com preocupação as posições de Hugo Chávez contra o neoliberalismo, seus contatos com Iraque e Líbia, sua amizade com o presidente cubano Fidel Castro e os supostos vínculos com a guerrilha colombiana, que sempre negou.

Hugo Chávez, por sua vez, criticou o imperialismo americano, o qual prometeu “nocautear”.

– Ofensas -As tensões surgiram especialmente com declarações ferozes. Em seu programa de televisão “Alô, presidente”, Hugo Chávez chamou George W. Bush de “covarde”, “assassino”, “genocida” e “alcoólatra”.

Em 2006, o secretário americano de Defesa, Donald Rumsfeld, comparou o presidente venezuelano a Adolf Hitler.

Chávez “desperdiçou a riqueza petroleira em seus esforços para promover sua visão hostil aos Estados Unidos, deixou seus próprios cidadãos enfrentando escassez de alimentos, enquanto ameaçava seus vizinhos”, declarou Bush em 2008.

– Outras acusações de tentativas golpistas -Em várias ocasiões, Hugo Chávez e depois seu sucessor, Nicolás Maduro, acusaram os Estados Unidos de apoiar tentativas golpistas.

Em agosto de 2017, o presidente americano, Donald Trump, provocou a ira de Caracas e a polêmica na América Latina ao falar de uma “possível opção militar” na Venezuela.

Na terça-feira, Nicolás Maduro acusou Washington de ordenar “um golpe de Estado fascista”, no dia seguinte de um alçamento militar reprimido e às vésperas de manifestações a favor e contra o governo.

O vice-presidente americano, Mike Pence, mostrou a sua solidariedade com a manifestação da oposição organizada nesta quarta-feira, por iniciativa do presidente do Parlamento, Juan Guaidó (Vontade Popular, centro esquerda).

A oposição não reconhece o segundo mandato de Nicolás Maduro, assim como os Estados Unidos, a União Europeia e vários países latino-americanos.

– Sanções -Em 2006, os Estados Unidos proibiram a venda de armas e equipamentos militares americanos à Venezuela, devido a sua falta de cooperação na guerra contra o terrorismo.

Venezuela e Estados Unidos não têm seus respectivos embaixadores desde 2010.

Em 2015, Washington impôs sanções contra vários funcionários venezuelanos acusados de violar os direitos humanos. O New York Times dedicou uma página à Venezuela assegurando que não representava nenhuma “ameaça”.

Nos últimos anos, houve várias sanções contra responsáveis venezuelanos, incluindo o presidente, descrito como “ditador”. Após a eleição de julho de 2017 da Assembleia Constituinte considerada “ilegítima”, os Estados Unidos proibiram seus cidadãos e suas empresas de comprar a dívida pública venezuelana ou de sua empresa petroleira pública, a Pdvsa.

Caracas atribuiu a essas sanções a grave escassez de alimentos e remédios que atingem o país.

– Petróleo -Apesar da retórica dura, ambos os países continuam sendo importantes sócios comerciais.

A Venezuela, que obtém 96% de suas receitas do petróleo, realizava um terço de suas vendas de petróleo nos Estados Unidos em 2017. Para Washington, isso representa 8% de suas compras.

Um possível embargo dos Estados Unidos ao petróleo seria um duro golpe para a economia venezuelana, já afundada.

A Venezuela é um importante ator no setor petroleiro nos Estados Unidos através da filial Citgo da Pdvsa, que tem refinarias, oleodutos e ações em reservas de petróleo em solo americano. Milhares de postos de gasolina exibem o letreiro Citgo sob um estatuto de franquia.

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