Chef do Bar da Dona Onça, na região central, removeu o estrogonofe do menu, mas depois voltou atrás e reincluiu prato no cardápio. Bares Levels Lounge Bar e Vaca Veia, no Itaim, mudaram nome do drinque ‘Moscow mule’ para ‘Kiev mule’. Bar do Itaim, na Zona Sul de São Paulo, muda nome de drinque para Kiev mule
Reprodução/Instagram
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) repudiou os restaurantes de São Paulo que fizeram alterações em seus cardápios em protesto contra a invasão da Rússia à Ucrânia. Pelo menos dois bares mudaram o nome do drinque “Moscow mule” para “Kiev mule”, e um restaurante da capital retirou o estrogonofe do menu.
Em nota publicada na quinta-feira (10), a Abrasel criticou as medidas. Segundo a associação, elas “acabam gerando uma mensagem confusa sobre a cultura e o povo russo, que estão sofrendo ataques em vários países” e trazem “um resultado nocivo, pois fomenta ódio a um povo (xenofobia)”.
“O setor pode e deve se opor à barbárie, mas sendo sempre muito cauteloso para não fomentar mais ódio”, disse a associação.
Para o presidente da associação, Paulo Solmucci, “seria muito melhor e mais produtivo se os bares e restaurantes que desejem ajudar de alguma forma, apoiassem campanhas que levam ajuda humanitária ao povo ucraniano”.
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No Bar da Dona Onça, na região central de São Paulo, a chef Janaína Rueda decidiu retirar o estrogonofe do menu na terça-feira (8). Em nota, a chef disse que a medida foi “uma forma de lembrar que uma nação não pode ser representada por um homem como este presidente, mas, sim, por sua rica história cultural, criada pelo povo.”
No entanto, na quarta-feira (9), o restaurante voltou atrás e o item foi reincluído no cardápio. “Depois de centenas de pedidos de nossos clientes, o Bar da Dona Onça voltará, a partir das 12h desta quarta-feira, a servir o Estrogonofe”, disse o estabelecimento, nas redes sociais. Durante o mês de março, a renda da venda do prato será revertida para projetos sociais.
Já no Levels Lounge Bar, no Itaim, o drinque chamado “Moscow mule”, uma conhecida mistura de vodca, gengibre e limão, virou “Kiev mule”. O bar também passou a oferecer um desconto de 10% no valor da bebida.
A mudança foi feita “em solidariedade à nação ucraniana”, segundo uma postagem no perfil do bar nas redes sociais. Segundo o texto, a alteração faz parte de um contexto de “tempos de conscientização”.
Ao g1, um dos sócios do estabelecimento, Daniel Bordon, disse que a mudança ocorreu “pensando em sermos solidários com um povo que está sofrendo com a guerra”.
“Para nossa surpresa houve uma boa demanda, o que nos surpreendeu e nos deixou contentes”, disse Bordon.
A troca no nome foi adotada ainda no bar Vaca Véia, também no Itaim.
“Fica o recado de conscientização do que está acontecendo do outro lado do mundo”, disse a postagem do bar que anunciou a mudança.
Nas redes sociais, as mudanças foram vistas com desconfiança. No Twitter, alguns usuários classificaram a atitude como oportunista e questionaram a utilidade deste tipo de manifestação.
Drinque Kiev Mule do bar Vaca Véia em São Paulo
Reprodução/Instagram
Origem das receitas
Embora o nome do drinque faça referência à Moscou, a capital russa, a bebida não teria nascido no país. Segundo o jornal New York Times, o coquetel foi criado em 1941 no Chatham Hote, em Nova York, nos Estados Unidos.
Também foi em protesto contra os ataques russos a retirada do estrogonofe do cardápio do Bar da Dona Onda. Apesar de ser um prato com raízes russas, ele foi bastante abrasileirado, de modo que a receita popular nos restaurantes paulistanos hoje em dia quase não tem semelhanças com a original.
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Estrogonofe brasileiro, acompanhado de arroz e batata palha
Terra da Gente
Embora não haja consenso sobre a origem da receita, a mais aceita é a de que a criação foi feita por um cozinheiro francês que trabalhava para a família Stroganov em São Petesburgo. O nome do clã, afrancesado, virou stroganoff, com a letra a, no lugar do o que vemos na grafia brasileira. O prato seria uma homenagem ao conde, militar e diplomata Pavel Alexandrovich Stroganov.
As mudanças não estão apenas na palavra. Enquanto o original leva páprica, conhaque e creme azedo, por aqui é comum encontrar preparos com ketchup, champignon e creme de leite. E se, na Rússia, o ensopado é servido tradicionalmente com batatas fritas ou cozidas, no Brasil o estrogonofe vem quase sempre ao lado de arroz branco e batata palha.
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Fonte: G1 Mundo