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Em choque, multidão vai a enterro de criança morta em creche de Minas

Com mais de uma dezena de carros, um ônibus escolar e uma série de motos e bicicletas, o cortejo que levou o pequeno caixão com o corpo de Ana Clara Ferreira Silva, 4, ao cemitério São Lucas, em Janaúba, parou avenidas da cidade de 70 mil habitantes no norte de Minas Gerais.

Ela morreu um dia antes, na quinta (5), carbonizada, após o vigia noturno Damião Soares dos Santos, 50, atear fogo em si e em crianças em uma creche municipal no bairro Barbosa, região afastada do centro da cidade, onde falta reboco nas casas e asfalto na rua. Além de Damião e Ana Clara, outras seis pessoas morreram –cinco crianças e uma professora.

Uma multidão acompanhou o enterro, na manhã desta sexta (6) –familiares, amigos da família e curiosos que queriam ver de perto o resultado do crime que chocou a pacata cidade.

Um tio passou mal e precisou ser acudido pela família. Choravam sem parar o pai, Nelson Silva de Jesus, e a mãe, Luana, que voltou de Montes Claros, maior cidade da região, para se despedir da criança. Ela foi à cidade vizinha para acompanhar os outros dois filhos que também estavam na creche, inalaram fumaça precisaram de atendimento médico. Todos passam bem. Ana Clara tinha ainda outros três irmãos. Um deles, gêmeo dela, não estava na creche no dia.

“É inexplicável o que aconteceu, não tenho palavras. Ouvi no rádio que tinha fogo lá e na hora pensei nos meus netos. Tinha certeza que alguma coisa tinha acontecido com eles”, diz o lavrador Antonio Pereira da Silva, 56, avô que diz que a neta “sempre brincava, gostava de rir, vadiar”.

Também pelo rádio soube o outro avô, Jovelino da Silva, 61, também lavrador, que vive em Jacaré Grande, distrito da zona rural. “Raiva não sei mas a gente fica nervoso mesmo. Como uma coisa dessas pode acontecer?”

Já Cristiane Conceição Rodrigues, 37, sabe definir o sentimento: “Não tem como não sentir ódio de uma pessoa dessas, não tem explicação”, diz a tia de Luiz Davi, 4, também morto na tragédia, enquanto ajuda a organizar o velório do menino, na casa em que vivia, no mesmo bairro. Ela vive na capital e conta que ele passava as férias de fim de ano na casa dela. “Pensar que nunca mais vai vou ver aquela criança, que fazia graça, mandava áudio no grupo do WhatsApp da família”, diz.

O corpo de Ruan Miguel, 4, foi velado a poucas ruas dali. Na sala da casa, velas e dezenas de pessoas se despedindo do menino, que seria enterrado logo depois, também em um pequeno caixão branco. “Um anjinho desses, como podem fazer isso?”, questiona, também incrédulo, o tio Paulo Rodrigues Soares, 41.

‘CORRIDA CONTRA O TEMPO’

A Prefeitura de Janaúba tem feito busca por crianças que estavam na creche no momento do incêndio e não foram atendidas em postos de saúde. Agentes acreditam que o número de feridos pode ser maior do que o já divulgado.

“Tinha mais de 80 crianças na creche, estamos fazendo busca ativa, indo de casa em casa. Às vezes a criança está bem, aparentemente, para os pais. Começa a tossir, o nariz sangra, logo tampa a glote e ela pode asfixiar. É muito grave. Pedimos que todos que souberem de crianças que estavam no local, que avisem, precisamos avaliar clinicamente”, disse a conselheira tutelar Gabriela Rodrigues Castro.

Ela chama a busca de “corrida contra o tempo”. “Parece que o mundo tá acabando, não podemos perder tempo. Quanto antes encontrarmos mais crianças, melhor”, diz.

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