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Explosão em rua movimentada de Istambul deixa feridos

Ainda não há confirmação oficial de mortes no local. Uma explosão em uma movimentada rua de pedestres na área de Taksim, no centro de Istambul, deixou várias pessoas feridas e outras fugiram do local, de acordo com a mídia turca e vídeos publicados.
Ainda não há confirmação oficial de mortes no local.
A causa da explosão ainda não foi esclarecida. Usuários de mídia social disseram que as lojas foram fechadas e a avenida fechada.
A emissora estatal TRT e outros meios de comunicação mostraram vídeos de ambulâncias e policiais indo para o local na rua Istiklal, em Istambul.
Esta reportagem está em atualização

Fonte: G1 Mundo

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Por que a população de Cuba não passa de 11 milhões de habitantes desde 1997


Populações em países da América Latina crescem a cada ano, mas na ilha caribenha a tendência é bem diferente. Cubanos jogando dominós
GETTY IMAGES/via BBC
A população mundial cresceu no último quarto do século a uma taxa média de 1,2% ao ano, chegando a quase 8 bilhões de habitantes.
A tendência foi semelhante na América Latina, onde a população já passa de 600 milhões.
Exceto em casos de guerra ou outros eventos extremos, é incomum que a população de um país fique estagnada ou até mesmo diminua em um período de 25 anos.
Mas Cuba não é um país normal.
Em 1984, a ilha ultrapassou a marca de 10 milhões de habitantes; em 1997, de 11 milhões; e, depois de alguns altos e baixos, o dado mais recente, relativo a 2021, é de 11,1 milhões.
Para se fazer uma comparação: no Brasil, a população em 1984 era estimada em 132 milhões; em 1997, de 167 milhões, e em 2021, de 212 milhões.
Quais são os motivos que explicam essa tendência incomum em Cuba?
Um pouco de história
“Em Cuba, você pergunta a qualquer um quantos filhos quer ter, e a resposta é 2 filhos, e tem até a ordem, primeiro um menino e depois uma menina. É um ideal reprodutivo que vem de nossos avós espanhóis”, explica à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, Juan Carlos Albizu-Campos, professor do Centro de Estudos da Economia Cubana da Universidade de Havana.
O acadêmico, que é autor de diversos estudos sobre o tema, destaca que, desde o início do século 20, Cuba sempre teve um comportamento demográfico diferente de seus vizinhos latino-americanos.
“Já em 1900, a fecundidade era relativamente baixa em comparação com o resto da América Latina, de 6 filhos por mulher (no México, por exemplo, eram 7, e em outros países da região, o número era ainda maior), e a população começou a adotar o esquema de famílias pequenas”, explica.
Na primeira metade do século passado, a ilha alcançou níveis de desenvolvimento inatingíveis em outros países da região e recebeu uma grande onda de migrantes europeus, principalmente espanhóis.
Ambos os fatores marcaram sua tendência demográfica diferenciada.
Famílias de dois filhos, como a desta fotografia de 1955, eram uma tendência comum em Cuba
GETTY IMAGES/via BBC
A partir de 1960, o declínio da mortalidade infantil e o maior acesso aos serviços de saúde e maternidade, entre outros fatores, levaram a um “baby boom”.
Mas não durou mais de uma década: nos anos 1970, a taxa de 2,1 filhos por mulher que garante a substituição geracional caiu pela primeira vez.
Assim, no final de 1985, a combinação de fecundidade e expectativa de vida em Cuba já “se assemelhava mais à média europeia do que à latino-americana”, diz Albizu-Campos.
Outra família cubana, em 2017
GETTY IMAGES/via BBC
Natalidade, mortalidade e pobreza
Cuba registrou em 2021 o menor número de nascimentos, 99.096, e o maior número de mortes, 167.645, das últimas seis décadas.
Embora o número de mortos tenha sido elevado pela onda mortal de covid-19 que atingiu o país, os registros de nascimentos confirmam uma tendência de queda acentuada que vem de anos atrás.
Hoje, a taxa de fecundidade total é de 1,45 filhos por mulher, bem abaixo da taxa de reposição — e também da média de 2 filhos na América Latina, segundo dados do Banco Mundial.
Essa tendência ocorre em um momento de extrema crise em Cuba, onde há escassez de alimentos, remédios, artigos médicos e outros bens básicos.
Segundo Albizu-Campos, o país está passando pelo que alguns acadêmicos chamam de “malthusianismo da pobreza”.
O economista britânico Thomas Malthus (1766-1834) é um dos primeiros e mais importantes demógrafos da história — sua teoria, chamada Malthusianismo, relaciona a questão do crescimento populacional descontrolado com os limitados recursos necessários para sua sobrevivência
GETTY IMAGES/via BBC
“Em Cuba, até 3 ou 4 gerações vivem juntas na mesma casa, e a comida também é escassa. Assim, a primeira pergunta que um jovem casal faz quando quer ter um filho é: onde vou colocá-lo?, e uma vez que isso está resolvido, o que vou dar de comer a ele?.”
Em outras palavras, hoje as mulheres cubanas percebem o nascimento de mais um filho como um risco real para os que já estão na família.
Quando essa situação se mantém ao longo do tempo, ele ressalta, “acaba transformando o padrão reprodutivo, e as mulheres protagonizam uma queda no nível de fecundidade, como aconteceu no ‘período especial'”.
O “período especial” foi a crise extrema que se instalou em Cuba após o colapso da União Soviética no início da década de 1990, com uma situação de escassez generalizada que muitos comparam com a atual.
“No ‘período especial’, o número de filhos por mulher caiu de 1,8 para 1,6 e, como foi uma crise sustentada ao longo do tempo, modificou o padrão reprodutivo da sociedade cubana”, indica Albizu-Campos.
A doutora em sociologia Elaine Acosta, pesquisadora associada da Universidade Internacional da Flórida, nos EUA, observa que Cuba “lidera os processos de envelhecimento na América Latina” devido à sua pirâmide demográfica mais parecida com a de um país europeu.
“Mesmo em comparação com o que se vive nas sociedades europeias, o salto produzido entre 1970 e hoje foi mais vertiginoso em Cuba, onde a população idosa passou de 9% do total para 20%”, afirma.
No entanto, ela considera problemática a combinação, nos últimos 25 anos, de uma pirâmide populacional semelhante à de um país desenvolvido com a deterioração gradual dos níveis de bem-estar e desenvolvimento humano.
Esta última questão, segundo ela, não só contribuiu para a redução da fecundidade, como também fomentou outro fator que explica a estagnação populacional na ilha: a emigração.
A emigração
Muitos jovens cubanos veem os Estados Unidos como o destino onde podem realizar seus sonhos profissionais e familiares
GETTY IMAGES/via BBC
Estima-se que quase um milhão de cubanos deixaram o país nos últimos 25 anos.
Destes, mais de 800 mil emigraram para os Estados Unidos, segundo os registros oficiais deste país.
O fluxo vinha oscilando entre 30 mil e 70 mil migrações por ano até a pandemia, mas somente nos primeiros nove meses de 2022, chegaram 200 mil cubanos ao país norte-americano — um recorde histórico que supera o de êxodos em massa anteriores, como o de Mariel em 1980 (quando 125 mil cubanos deixara a ilha em apenas 7 meses) ou a crise dos balseiros durante o “período especial”.
Durante a crise dos balseiros de meados da década de 1990, dezenas de milhares de cubanos se lançaram ao mar em balsas improvisadas para tentar chegar à costa dos EUA — muitos morreram tentando
GETTY IMAGES/via BBC
“O aumento descontrolado da inflação, a queda do valor real dos salários e pensões, a insegurança alimentar, a escassez de medicamentos e a deterioração da habitação, entre outros, reduziram os níveis de bem-estar a níveis mínimos semelhantes aos do período especial, mas com menores níveis de proteção social e em um ambiente de maior tensão política e insatisfação popular”, explica a socióloga.
“Tudo isso acaba influenciando milhares de jovens e até idosos a se juntarem à debandada migratória que recomeçou quando os voos foram reabertos, em novembro de 2021.”
Vai cair para 10 milhões?
Isso significa que, após 25 anos de estagnação, a população cubana pode estar iniciando uma tendência de queda, especialmente se levarmos em conta que grande parte dos emigrantes são jovens ou pessoas em idade fértil que vão gerar filhos fora da ilha.
O demógrafo Albizu-Campos previu anos atrás que a população cubana retornaria à marca de 10 milhões de habitantes a partir de 2030, com toda a geração do baby boom dos anos 1960 na velhice.
No entanto, o processo parece ter acelerado, e a redução do patamar de 11 milhões poderá ocorrer já neste ano, quando o cadastro for atualizado com os novos dados de nascimentos, óbitos e emigrantes.
“A combinação perversa entre a emigração sustentada e o aumento das mortes pode indicar que estamos mais perto novamente de baixar essa marca”, diz o especialista.
O panorama demográfico se mostra ainda mais complicado para 2050, quando mais de 3,7 milhões de cubanos de uma população estimada em 10,1 milhões de habitantes terão mais de 60 anos, segundo projeções das Nações Unidas.
Destes, quase 1,3 milhão serão idosos com mais de 80 anos.
Os idosos ocupam cada vez mais uma porcentagem maior da população cubana
GETTY IMAGES/via BBC
Elaine Acosta observa ainda que estas projeções foram formuladas antes da atual crise migratória.
“Consequentemente, a contração da população pode ser ainda maior do que a esperada.”
Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63384033

Fonte: G1 Mundo

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Presidente de Israel oficializa mandato de Netanyahu para formar governo


Benjamin Netanyahu, que liderou as eleições legislativas de 1º de novembro, foi oficialmente nomeado para formar um governo. O novo governo parece ser o mais direitista da história de Israel. Benjamin Netanyahu (esq.) recebe oficialmente o direito de formar governo do presidente de Israel, Isaac Herzog
Ronen Zvulun/REUTERS
O ex-primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que liderou as eleições legislativas de 1º de novembro, foi oficialmente nomeado neste domingo (13) para formar um governo.
“Dou-lhe o mandato para formar um governo”, declarou o presidente de Israel, Isaac Herzog, ao lado de Netanyahu, em uma entrevista coletiva em Jerusalém.
Encarregando Netanyahu, o primeiro-ministro mais antigo de Israel, a construir a próxima coalizão, o presidente Isaac Herzog observou que o candidato recebeu recomendações suficientes de partidos com ideias semelhantes para garantir 64 dos 120 assentos do parlamento.
Isso coloca o conservador Netanyahu no caminho para um dos governos mais estáveis ​​em anos, após um hiato de 18 meses durante o qual foi substituído por uma rara, mas frágil aliança de políticos centristas, liberais, nacionalistas e árabes.
Benajmin Netanyahu discursa oficialmente como Primeiro-ministro de Israel
Ronen Zvulun/REUTERS
Em declarações televisionadas na residência do presidente em Jerusalém, Netanyahu prometeu formar “um governo estável, bem-sucedido, responsável e dedicado que trabalhará em benefício de todos os residentes do estado de Israel”.
Reiterando duas de suas convicções de longa data, ele prometeu mais reformas de livre mercado para reduzir o custo de vida e disse que “devemos agir com determinação contra a beligerância do Irã e, acima de tudo, frustrar seu esforço para se armar com armas nucleares, que tem desígnios diretos contra a nossa existência”.
Posicionamento político
O parlamentar ultranacionalista israelense Itamar Ben-Gvir fala durante evento em 10 de novembro de 2022
Ronen Zvulun/REUTERS
O novo governo parece ser o mais direitista da história de Israel, com o partido ultranacionalista Sionismo Religioso, cujos líderes se opõem ao Estado palestino, querem anexar a Cisjordânia ocupada e foram anti-LGBT no passado.
Um deles, Itamar Ben-Gvir, foi condenado em 2007 por incitação racista contra árabes e apoio ao terrorismo. Ele diz que agora está reformado, mas ainda pede duras repressões contra aqueles que considera terroristas ou traidores.
Herzog observou o julgamento de Netanyahu, mas disse que não representa nenhum obstáculo legal para ele voltar a ser primeiro-ministro.

Fonte: G1 Mundo

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Copa do Mundo: como a saúde mental influencia o desempenho dos jogadores em campo


Psicóloga especializada em esportes explica como o estado mental pode afetar o resultado de uma partida e mostra a importância de identificar líderes, sabotadores e bodes expiatórios dentro de um time. Katia Rubio entende que os títulos vêm apenas quando a equipe coloca os objetivos coletivos acima dos individuais
GETTY IMAGES/via BBC
A psicóloga Katia Rubio, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), entende que as Olimpíadas de 2020, disputadas em Tóquio, no Japão, representaram um divisor de águas na relação entre a mente e a performance esportiva.
“Nunca se falou tanto sobre saúde mental e esporte como durante e após os jogos olímpicos mais recentes”, avalia.
Vale lembrar que a disputa ocorreu em meio à pandemia de covid-19, em que todo mundo precisou fazer isolamento e ficar longe de familiares e amigos. Durante a competição, o caso da ginasta americana Simone Biles, que desistiu de algumas provas por questões relacionadas ao bem-estar mental, ganhou as manchetes mundo afora.
Será que um cenário parecido vai se repetir na Copa do Mundo de 2022, disputada no Catar?
Rubio, que também foi presidente da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte, dedica a carreira a estudar o tema e resgatar a memória de atletas brasileiros.
Na visão dela, a resistência sobre saúde mental no mundo do futebol também está diminuindo consideravelmente nos últimos anos.
“E isso acontece com mais força no futebol feminino, que já soma várias intervenções de sucesso”, diz.
“No masculino, há uma resistência maior, até pelo machismo e por aquela falsa noção de que homem não chora, é potente e não pode falar de questões sentimentais.”
“Isso só atrasa o acesso a um apoio fundamental para a vida do atleta”, lamenta a psicóloga.
Mas Rubio vê que, até entre os homens, esse bloqueio emocional está diminuindo aos poucos.
Ela cita o exemplo de jogadores que classifica como “pioneiros na saúde mental”, por falarem abertamente que consultaram psiquiatras e foram diagnosticados com depressão.
Nas últimas duas décadas, atletas como Pedrinho, ex-jogador de Palmeiras e Vasco, e Nilmar, que vestiu as camisas de Internacional, Corinthians e Santos, deram entrevistas sobre o tema.
“Eles prestaram um serviço imensurável ao esporte, pois se colocaram na posição de pessoas que sofrem, como qualquer um. E isso começou a promover um ‘degelo’ nas questões mentais dentro do futebol”, lembra.
Saúde mental em primeiro plano
A profissional também destaca como a psicologia é relevante dentro do esporte competitivo.
“A saúde mental entra em campo com a mesma influência da preparação física, da nutrição, da fisiologia, da biomecânica…”, lista.
“E não há dúvidas de que a mente interfere diretamente na performance de um atleta”, complementa.
Ou seja: um atleta que está com algum desequilíbrio no bem-estar mental não vai conseguir focar na jogo. Com isso, ele não será capaz de tomar as melhores decisões para si e para a equipe — o que chega a afetar até o placar final de uma partida.
Rubio cita outra preocupação constante dos especialistas da área que lidam com atletas: o sono.
“Sabemos que o dia anterior à competição costuma ser mais complicado para eles.”
“E temos uma série de estratégias para que os jogadores possam dormir bem, até porque uma boa noite do sono é fundamental para que eles tenham as condições mínimas para atuar em campo”, aponta.
Katia Rubio dedica a carreira de pesquisadora a entender a psicologia esportiva e resgatar a história de atletas brasileiros
BBC
A Copa que vem por aí
Rubio entende que, para o Brasil ser campeão novamente, será preciso que “os ganhos coletivos se sobressaiam aos projetos individuais”.
“Me parece que, para a atual geração de jogadores, o mais importante é a possibilidade de conseguir contratos comerciais a partir das vitórias”, analisa.
Na visão da psicóloga, isso representa uma barreira para as grandes conquistas.
“Enquanto uma equipe não entende que todos ganham com um título, fica muito difícil chegar a uma vitória na final”, analisa.
A pesquisadora também destaca outro aspecto que influencia na relação entre a seleção e os brasileiros: o fato da maioria dos jogadores disputar as ligas europeias e estar longe da realidade do país.
“Muitos atletas vão para o exterior, ascendem socialmente, ampliam de forma incontrolável o patrimônio e se desvinculam da vida que tinham anteriormente”, descreve.
“E isso acontece porque a carreira deles é mediada por outras pessoas, que os veem como um objeto, uma commodity. Na cabeça desses empresários e dirigentes, quanto mais apartados das questões sociais esses atletas estiverem, melhor.”
“Mas é claro que existem jogadores que, de alguma forma, preservam o controle da vida pessoal e criam uma rede de apoio bem estruturada, capaz de criar um escudo contra essas influências”, complementa.
E essa falta de contato com a realidade pode ficar escondida por muitos anos, até desaguar em situações específicas.
Como exemplo, a psicóloga lembra dos momentos em que os jogadores brasileiros cantavam o Hino Nacional antes dos jogos da Copa do Mundo de 2014, disputada no país.
“Ali, ficava muito evidente o nível de descontrole de alguns. Para aquelas pessoas, que viviam há anos fora do Brasil, esse sentimento ficou trancado numa caixinha e saía de uma só vez naquelas ocasiões”, avalia.
Entre líderes e bodes expiatórios
A psicóloga reforça a relevância de identificar o perfil de cada jogador e como ele pode contribuir durante o jogo.
“Há uma máxima que diz: a melhor equipe não é aquela com a maior soma de valores individuais, mas como esses valores se relacionam”, cita.
Ela explica que, de forma geral, é possível dividir os indivíduos em introvertidos e extrovertidos. A partir daí, alguns serão racionais, sentimentais, intuitivos ou sensitivos.
“Veja como é complexo identificar esses perfis e fazer com que eles interajam em equilíbrio ao longo de um jogo”, observa.
Rúbio destaca o papel do técnico — e da equipe de psicólogos do time — em identificar as lideranças em campo.
“No futebol, há o capitão, em que o papel de líder é materializado pela braçadeira no braço. Mas podem existir outras referências técnicas e cognitivas dentro de uma equipe.”
A capitã de um time precisa ser reconhecida como líder pelas companheiras, afirma Rubio
GETTY IMAGES/via BBC
“E cada um deles se sobressai em contextos específicos. Num momento de maior tensão da partida, alguns atletas vão chamar a responsabilidade para criar as jogadas. Agora, quando é preciso ter sangue frio para manter um placar favorável, outros podem exercer um segundo tipo de influência”, compara.
“Uma equipe campeã começa quando o técnico é capaz de identificar todos esses perfis e tirar o melhor de cada jogador, segundo as características deles”, resume.
Mas é claro que esses traços também podem ter influências negativas e naufragar o trabalho do time inteiro.
Rubio cita o papel dos atletas que atuam com sabotadores e aqueles que viram bodes expiatórios.
“O sabotador age por baixo dos panos para endereçar interesses pessoais acima dos coletivos”, ensina.
Com isso, ele consegue eleger e manipular bodes expiatórios que, na pior das consequências, são apontados como culpados diante de um insucesso.
“É função do técnico e do líder identificar e desmascarar esse sabotador”, avalia
“Até porque, quando é identificado, esse indivíduo se vê exposto e perde a influência”, conclui a pesquisadora.
Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63512442

Fonte: G1 Mundo

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Eleições nos EUA: democratas vencem em Nevada e Arizona e mantêm controle do Senado


Em pleito apertado, a rede americana CBS projeta que a senadora democrata Catherine Cortez Masto vencerá em Nevada. A democrata Catherine Cortez Masto manteve sua cadeira no Senado do Estado do Nevada
GETTY IMAGES/via BBC
Depois de vencer uma disputa crucial no Estado americano de Nevada, os democratas manterão o controle do Senado dos Estados Unidos.
De acordo com estimativas da rede norte-americana CBS, a senadora democrata Catherine Cortez Masto seguirá no seu cargo após derrotar o candidato republicano Adam Laxalt.
Na sexta-feira, o democrata Mark Kelly havia derrotado seu rival republicano Blake Masters no Arizona — outra vitória importante para o partido do presidente americano Joe Biden.
O democrata Mark Kelly derrutou o republicano Blake Masters no Arizona
GETTY IMAGES/via BBC
Com esse resultado, os democratas passam a ter 50 cadeiras no Senado e os republicanos, 49.
A vaga na Geórgia ainda está em aberto e haverá um segundo turno em 6 de dezembro.
Mesmo que os republicanos ganhem na Geórgia, empatando o número de vagas no Senado entre os partidos no Senado, a vice-presidente democrata Kamala Harris poderá votar em caso de empates nas decisões legislativas. Ou seja: o poder de decisão no Senado sempre caberá aos democratas.
Já na outra disputa desta eleição, pelo controle da Câmara dos Deputados (ou Representantes), os republicanos parecem estar perto de conquistar a maioria.
Quem é Catherine Cortez Masto?
A senadora Catherine Cortez Masto, de 58 anos, é conhecida por seu perfil discreto no trabalho, algo que manteve na campanha eleitoral.
Seus próprios apoiadores admitem que alguns eleitores não sabem seu nome completo e, em vez disso, apenas a chamam de “senadora”.
A senadora Catherine Cortez Masto, de 58 anos, é conhecida por seu perfil discreto no trabalho
GETTY IMAGES/via BBC
Seu pai, Manny, era um político de Nevada que trabalhou em uma garagem de estacionamento, tornando-se mais tarde advogado e presidente da poderosa agência governamental que promove a indústria de turismo do Estado.
A senadora perdeu 16 dos 17 condados de Nevada, mas dominou o condado de Clark, onde vive mais de 70% da população do Estado, incluindo os trabalhadores de Las Vegas.
Ela fez campanha a favor da legalização do aborto e do controle de armas. Ela votou para condenar Trump por incitar a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
O que aconteceu no Arizona?
Na sexta-feira, o democrata Mark Kelly derrotou seu rival republicano Blake Masters na luta por uma vaga no Senado pelo Estado do Arizona.
Kelly — um ex-astronauta cuja esposa, Gabby Giffords, sobreviveu a uma tentativa de assassinato quando era parlamentar americana — foi eleito pela primeira vez há dois anos para cumprir o restante do mandato no Senado de John McCain, que havia falecido.
Mark Kelly, vencedor no Arizona
GETTY IMAGES/via BBC
Em um comunicado, Kelly disse: “Desde o primeiro dia, esta campanha se concentrou em muitos arizonanos, democratas, independentes e republicanos, que acreditam em trabalhar juntos para enfrentar os importantes desafios que temos pela frente”.
“Isso é exatamente o que fiz nos meus dois primeiros anos no cargo e o que continuarei a fazer enquanto estiver lá.”
Seu rival, Blake Masters — de 36 anos e sem experiência política — foi apoiado pelo ex-presidente Donald Trump. Masters se recusou a aceitar os resultados das eleições de 2020 e repetiu falsas alegações de fraude eleitoral agora.
Em um e-mail para seus apoiadores na quinta-feira, a campanha de Masters disse ter visto problemas “preocupantes” durante a eleição e pediu contribuições, segundo o jornal The New York Times.
“Esperamos um caminho adiante cheio de batalhas legais”, acrescentou.
O resultado é outra derrota para os republicanos, que esperavam uma “onda vermelha” esta semana — um recado duro para o presidente Joe Biden e os democratas.
Biden disse que a eleição desta semana foi um “dia bom” para a democracia americana.
Eleição de meio de mandato
As eleições de meio de mandato escolhem os integrantes do Congresso americano, que é formado por duas partes: a Câmara dos Deputados (ou dos Representantes) e o Senado.
Congreso dos Estados Unidos
EPA/via BBC
O Congresso cria leis em nível nacional. A Câmara decide quais leis são votadas, enquanto o Senado pode bloqueá-las ou aprová-las, confirmar as nomeações feitas pelo presidente e, em raras ocasiões, conduzir investigações contra autoridades.
Essas eleições são realizadas a cada dois anos, e caem sempre na metade do mandato de quatro anos do presidente.
Cada Estado tem dois senadores, que cumprem mandatos de seis anos. Os representantes (ou deputados) ocupam o cargo por dois anos e representam distritos menores.
Todos os assentos na Câmara dos Representantes estavam em disputa nas eleições de meio de mandato, juntamente com um terço do Senado.
Vários Estados importantes também realizaram eleições para seu governador e outros cargos locais.

Um resultado que fortalece Biden
Análise de Anthony Zurcher, correspondente da BBC nos EUA
Os democratas conseguiram manter o controle do Senado dos EUA, uma conquista que fará com que Joe Biden passe mais dois anos indicando nomes para os tribunais federais.
Quatro dias depois que dezenas de milhões de americanos foram às urnas, a vitória apertada de Catherine Cortez Masto em Nevada na noite de sábado (13/11) foi um marco decisivo na batalha política.
Agora, mesmo que os republicanos ganhem a disputa restante do Senado na Geórgia, empatando o número de vagas no Senado entre os partidos, a vice-presidente democrata Kamala Harris poderá votar em caso de empates nas decisões legislativas.
A vitória é importante porque agora, se um assento da Suprema Corte ficar vago devido à aposentadoria inesperada ou à morte de um juiz, os republicanos não poderão bloquear qualquer indicado por Biden.
A vitória em Nevada significa que o segundo turno do Senado da Geórgia em 6 de dezembro não é mais uma corrida crucial para determinar o controle da Casa.
No entanto, Biden disse que “é melhor” que os democratas cheguem a 51 cadeiras. A vaga extra certamente facilita a gestão de uma maioria e também ajudará em 2024, quando o partido terá que defender mais vagas na eleição parlamentar daquele ano.
Ainda há uma chance, embora não uma certeza, de que os republicanos conquistem uma pequena maioria na Câmara dos Deputados, o que trará uma série de dores de cabeça para o presidente.
O futuro político de Donald Trump foi abalado, mas ainda não se sabe quanto tempo esse dano deve durar. Enquanto isso, a posição de Joe Biden dentro de seu partido foi fortalecida.
O mundo político nos EUA é hoje bastante diferente do que era apenas uma semana atrás.
Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63614375

Fonte: G1 Mundo

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EUA: Democratas vibram com maioria do Senado e Biden sai ‘fortalecido’ das eleições


Os democratas ainda podem conquistar uma vaga no estado da Geórgia, onde um segundo turno está previsto para 6 de dezembro. Joe Biden durante entrevista coletiva, em 9 de novembro de 2022
Tom Brenner/Reuters
O Partido Democrata celebra a conquista, neste sábado (12), da cadeira que faltava para manter o controle do Senado dos Estados Unidos, uma vitória decisiva para a continuação da presidência do presidente Joe Biden e um amargo fracasso para seu antecessor Donald Trump. “Sinto-me bem e estou ansioso pelos próximos dois anos”, reagiu Biden de Phnom Penh, no Camboja, à margem de uma cúpula asiática.
Quatro dias após as eleições de meio de mandato, a mídia americana declarou vitória para a senadora democrata Catherine Cortez Masto, no estado-chave de Nevada. A titular do cargo venceu por pouco Adam Laxalt, candidato apoiado pelo ex-presidente Donald Trump.
Vitória da senadora Catherine Cortez Masto garante ao Partido Democrata manter o controle do Senado na segunda parte do mandato do presidente Joe Biden
David Swanson/Reuters
Sua reeleição eleva o número de democratas eleitos para o Senado para 50 em um total de 100, o que permite que o partido de Biden mantenha o controle da Câmara Alta do Congresso. De acordo com a Constituição americana, a vice-presidente Kamala Harris tem o poder de decidir entre os senadores.
Os democratas ainda podem conquistar uma vaga no estado da Geórgia, onde um segundo turno está previsto para 6 de dezembro.
Um golpe para “Make America Great Again”
Ex-presidente americano, Donald Trump, lançando bonés para apoiadores em evento no estado do Wisconsin
Morry Gash/AP
O líder da maioria democrata no Senado, Chuck Schumer, reagiu poucos minutos depois que os resultados foram anunciados, twittando que esta era uma “manifestação” dos feitos dos democratas. Para ele, isso significa que os americanos “sabiamente rejeitaram a direção antidemocrática, autoritária, perversa e divisiva que os republicanos do MAGA queriam dar ao nosso país”, em referência ao movimento “Make America Great Again” de Donald Trump.
Trump foi onipresente durante a campanha, das primárias republicanas aos comícios na reta final em todo o país. Mais de cem candidatos republicanos que contestaram os resultados das eleições presidenciais de 2020 foram eleitos, de acordo com projeções da mídia americana, mas algumas “crias” de Trump falharam.
O ex-presidente dos EUA Donald Trump em comício para as eleições legislativas do país, em 7 de outubro de 2022.
Michael Conroy/ AP
Impulsionados pela alta inflação, os republicanos há muito acreditavam ter uma grande vantagem para reconquistar as duas câmaras durante esta eleição tradicionalmente difícil para o partido no poder.
Os republicanos, no entanto, parecem capazes de recuperar a maioria na Câmara dos Deputados. Eles devem usá-la para lançar inúmeras investigações parlamentares sobre o governo de Joe Biden ou daqueles próximos a ele.
Temas sensíveis
Phoebe Yang, de 6 anos, marcha ao lado de Xuemei Li em manifestação contra a violência direcionada a asiáticos nos EUA, em Detroit, no sábado (27)
Nicole Hester/Ann Arbor News via AP
No entanto, a vitória do partido de oposição promete ser muito menor do que o esperado. O canal NBC News projetou uma frágil maioria de cinco cadeiras para os republicanos na manhã de sábado, com 220 eleitos contra 215 dos democratas. Quase 20 sondagens ainda não deram seu veredito, principalmente na Califórnia.
Mas, sem o Senado, os republicanos não poderão aprovar leis alinhadas aos seus objetivos, particularmente sobre aborto ou clima, nem bloquear a nomeação de juízes, embaixadores e funcionários do governo.
Os resultados decepcionantes dos republicanos aumentam a agitação entre seus representantes eleitos no Congresso, incitando um possível acerto de contas. Em uma carta revelada pelo Politico, diversos senadores trumpistas pedem o adiamento da votação para eleger seu líder no Senado, agendada para a próxima semana, parecendo desafiar Mitch McConnell, que quer ser reconduzido ao posto.
“Estamos todos desapontados que uma ‘onda vermelha’ (cor do Partido Republicano) não tenha se concretizado, e há muitas razões para isso”, eles escrevem, querendo provocar um debate sobre o assunto.
Fraude eleitoral
Grupo de negacionistas armados que reivindicavam vitória de Donald Trump em 2020, quando ex-presidente perdeu eleições para democrata Joe Biden
Ted S. Warren/ AP
O fim das ilusões republicanas para o Senado representa um revés para Donald Trump, que deve anunciar nesta terça-feira (15) que será candidato presidencial, sua terceira tentativa.
Na sexta-feira (11) os democratas já haviam conquistado a vitória no Arizona, onde o cessante Mark Kelly derrotou o republicano Blake Masters, que recebeu o forte apoio do ex-chefe de Estado, e que ainda não reconheceu a derrota.
Afetado por esse revés no Arizona, que se soma a outros fracassos de suas “crias”, o bilionário republicano mais uma vez alegou fraude eleitoral, recusando-se a admitir o veredito das pesquisas, como tem feito desde sua derrota nas eleições presidenciais de 2020.
O governador republicano da Flórida, Ron DeSantis, faz um discurso ao lado sua esposa Casey em Tampa, na Flórida, nos EUA, em 8 de novembro de 2022
REUTERS/Marco Bello
Mesmo que sua influência no Partido Republicano permaneça inegável, Trump sai das eleições de meio de mandato enfraquecido e parece querer agir rapidamente para puxar o tapete de seus rivais. Entre eles está o governador da Flórida, Ron DeSantis, reeleito triunfalmente e nova estrela da extrema direita. Seu sucesso não fugiu à atenção do bilionário, que esta semana o apelidou de “Ron, o moralista”.
E, coincidência do calendário ou não, terça-feira também será o dia do lançamento das memórias de outro possível concorrente de Donald Trump, seu ex-vice-presidente Mike Pence.

Fonte: G1 Mundo

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A cidade da Espanha que usa técnica de 3 mil anos para baixar temperaturas no calor


Modernizando tecnologias antigas, a cidade de Sevilla procura se adaptar a ondas de calor excepcionais. E suas soluções podem ajudar outros centros urbanos impactados pelo aquecimento global. Em 2019, Sevilha foi a primeira cidade da Espanha a declarar estado de emergência climática
GETTY IMAGES
Imagine precisar suportar temperaturas acima de 40 °C por 21 dias seguidos.
Foi o que viveram este ano os moradores de Sevilha, na Espanha. E, frente ao impacto das mudanças climáticas, a cidade não teve alternativa senão inovar.
O exemplo mais recente desse processo de transformação é o chamado projeto Cartuja Qanat. Esta iniciativa acaba de ser inaugurada em uma zona de Sevilha chamada ilha de Cartuja, onde os espaços públicos foram climatizados com técnicas que já eram usadas pelos persas 3 mil anos atrás.
As soluções de Cartuja Qanat já começam a ser reproduzidas em outros locais da cidade. E o projeto ainda mostra, segundo seus responsáveis, o caminho a seguir para outras cidades do mundo pressionadas pelos impactos contundentes das mudanças climáticas.
O projeto Cartuja Qanat climatiza espaços públicos, adaptando técnicas ancestrais.
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Calor sem precedentes
“O clima de Sevilha sempre foi difícil, mas está ficando cada vez mais complicado com as mudanças climáticas”, segundo Lucas Perea, principal responsável pelo projeto e chefe do Departamento de Cooperação e Fundos da Emasesa, a empresa pública de água de Sevilha.
O projeto Cartuja Qanat tem sete sócios, que incluem a Emasesa, a prefeitura da cidade, a Universidade de Sevilha e uma iniciativa da União Europeia chamada Ações Urbanas Inovadoras (UIA, na sigla em inglês). O custo total do projeto é de 5 milhões de euros (cerca de R$ 25,8 milhões), 80% dos quais cobertos pela UIA.
É cada vez mais urgente procurar adaptar-se às mudanças climáticas. Um relatório da Organização Meteorológica Mundial publicado em 2 de novembro destacou que, nos últimos 30 anos, as temperaturas na Europa aumentaram mais do que o dobro do aumento médio global.
“Em nenhum outro continente as temperaturas subiram de forma tão significativa”, afirma o relatório.
Perea destaca que Sevilha está enfrentando ondas de calor excepcionais.
“Este ano tivemos três ondas de calor no verão, em junho, julho e setembro, com dois problemas”, segundo ele. “Um é que as ondas de calor surgem cada vez mais cedo. E o outro é que a de julho durou 21 dias.”
“Em Sevilha, sempre fez mais de 40 graus no verão, podendo ter um ou dois dias de 45 graus. Mas ter 21 dias seguidos com temperaturas acima de 40 graus já é uma exceção”, explica Perea.
Recuperar a vida nas ruas
O calor extremo tornou as ruas de Sevilha “um território hostil”, segundo o professor José Sánchez Ramos, do Departamento de Engenharia Energética da Universidade de Sevilha.
Sánchez Ramos integra a Termotecnia, o grupo de pesquisadores da Universidade de Sevilha, dirigido pelo engenheiro Servando Álvarez, que elaborou as soluções tecnológicas do projeto.
Durante as ondas de calor, “é impossível suportar o ambiente externo, exceto pelo mínimo necessário para ir de um lugar para outro. Eu não sugeriria que você levasse crianças a uma quadra esportiva ou para uma praça”, segundo ele.
“As pessoas saem à noite. Nos meses quentes, é como se Sevilha durante o dia fosse uma zona desértica”, afirma Sánchez Ramos.
O engenheiro acrescenta que Cartuja Qanat tem como objetivo principal “recuperar a vida nas ruas”. E, para Lucas Perea, o projeto “procura criar espaços de conforto nos quais as pessoas possam desenvolver atividades com custo energético praticamente inexistente”.
Quais são as técnicas milenares?
O projeto adapta tecnologias usadas há milhares de anos, não só pelos persas, mas também por vários países árabes.
“Se nos aprofundarmos, todas as soluções apresentadas já foram trabalhadas no passado, em nível ancestral”, afirma Sánchez Ramos.
Uma dessas técnicas é a dos chamados “qanats”, que são grandes canais ou aquedutos subterrâneos que transportam água ao longo de centenas de quilômetros até as cidades. Em contato com o terreno frio, a água permanece fresca e traz ainda outra grande vantagem.
Ao longo do qanat, são abertos poços para retirar água e, por eles, ingressa o ar. “O ar percorre os qanats e, por estar em um ambiente onde existe água fria e o terreno é frio, ele se resfria. Quando o ar volta a sair, ele está mais fresco”, explica Sánchez Ramos.
Além dos qanats, outra técnica milenar usada no projeto é a dos “captadores de vento”, que são usados até hoje.
A cidade de Yazd, no Irã, é famosa pelos seus captadores de ar, também conhecidos como torres de vento. Em 2017, ela foi declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
As torres têm aberturas que permitem a entrada de ar para ventilar as construções. O ar mais fresco desce até a parte inferior, por ser mais denso, e expulsa o ar mais quente por outra abertura.
Em muitos casos, o ar seco e quente que entra pelas torres passa por qanats subterrâneos ou por outras superfícies com água, voltando a sair, mais úmido e frio, por outra abertura.
Como essas técnicas foram trazidas para os dias atuais?
“Nós em Cartuja Qanat temos alguns qanats, canais subterrâneos cheios de água fria”, segundo Sánchez Ramos. “Você pode imaginá-los como se fossem canais retangulares, com 30 metros de comprimento e enterrados. Eles armazenam 140 metros cúbicos de água.”
Por outro lado, o ar circula por condutores que estão submersos na água dos qanats ou enterrados sob os canais.
Os condutores enterrados resfriam-se porque o terreno está frio devido à água do qanat. E os condutores submersos estão imersos no volume de água que esfria todas as noites até 17-18 °C.
“Nós recolhemos o ar de Sevilha a 40 °C, fazemos passar por esses condutores e o ar é resfriado”, afirma Sánchez Ramos.
Nos dois lados do ‘Zoco’, um dos espaços climatizados, pode-se observar os qanats, ou canais subterrâneos com água 2- Os condutores com ar (representados por círculos) estão submersos no qanat ou enterrados abaixo 3- Um qanat tradicional
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Então a solução é resfriar a água dos qanats. Como se faz isso?
“Temos painéis fotovoltaicos para produzir eletricidade e, à noite, descartamos a água do qanat por cima da placa fotovoltaica, como uma cascata, para que a água seja resfriada”, explica Sánchez Ramos.
“Esta é a releitura que fazemos dos qanats – uma releitura mais técnica, mais industrial, baseada em armazenar água, resfriá-la à noite e usar essa água de dia para produzir muito ar frio e superfícies frescas”, prossegue ele.
Perea explicou à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, que “o sistema de água de Cartuja Qanat é um sistema de circuito fechado”. A água deve ser tratada “para que não haja problemas com nenhum tipo de micróbio, pois esse ar é depois o que nós respiramos”.
Três espaços públicos
Essa tecnologia é usada para climatizar três espaços principais, reduzindo sua temperatura em 10 a 15 °C.
Um desses espaços é o Zoco, uma construção semienterrada com cerca de 800 metros quadrados. No seu teto, estão as placas fotovoltaicas utilizadas para resfriar a água dos qanats.
“A água do canal é colocada em cima do teto do Zoco e funciona como radiador frio”, explica Sánchez Ramos.
‘A água do canal é colocada em cima do teto do Zoco e funciona como radiador frio’, explica José Sánchez Ramos
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Outro espaço é um anfiteatro construído originalmente para a Expo 92 de Sevilha, que ocorreu na ilha de Cartuja. “Nós impulsionamos o ar frio pela parte de baixo. É um espaço destinado, por exemplo, a aulas ou conferências”, afirma ele.
O terceiro espaço é a “ilha temperada”. Lucas Perea explica que se trata de “um corredor com bancos, onde estão sendo testadas cerâmicas e outros materiais em desenvolvimento”.
Em um tanque ao lado do anfiteatro e em um aqueduto suspenso que conecta o anfiteatro ao Zoco, a água também permanece fresca por meio de “resfriamento evaporativo”.
Esta expressão pode não ser familiar, mas é um fenômeno muito comum que explica por que suamos quando nosso corpo fica excessivamente quente ou por que as tradicionais moringas de argila mantêm a água fresca.
A evaporação (passagem das moléculas do estado líquido para o gasoso) consome energia. Por isso, a energia (temperatura) da água que permanece líquida é reduzida.
No caso do recipiente de argila com paredes porosas, a evaporação faz com que “a água que evapora retire calor do resto da água que fica dentro da vasilha”, explica Sánchez Ramos.
Decisão participativa
O projeto não procura apenas usar tecnologias de forma inovadora. Existe também um componente de inovação social.
Quatro dos sócios de Cartuja Qanat, incluindo a Emasesa e a Universidade de Sevilha, comprometeram-se a manter os espaços por cinco anos. Mas esse grupo pode ser ampliado “por qualquer pessoa física ou jurídica que queira incorporar-se ao projeto para opinar e participar da gestão conjunta do espaço”, explica Perea.
Uma associação de moradores, por exemplo, pode simplesmente solicitar o uso do espaço ou ainda unir-se ao projeto e participar das decisões futuras sobre o que fazer nele.
A ideia, segundo o representante da Emasesa, é que os espaços sejam administrados em gestão participativa.
Do ponto de ônibus ao pátio do colégio
O projeto piloto de Cartuja Qanat está começando a ser reproduzido em outros locais de Sevilha, em uma iniciativa chamada LIFE Watercool.
Uma parte do projeto pretende climatizar um ponto de ônibus fazendo circular água fria pelo teto. A ideia é que, “quando uma pessoa chegar a esse ponto de ônibus, ele sirva como um abraço refrescante, acolhendo-a com uma superfície fria que permita ficar ali por 20 ou 30 minutos de forma magnífica”, afirma Sánchez Ramos.
Está previsto também o resfriamento do pátio de um colégio público. “Em mais de uma ocasião, a ambulância precisou intervir nos colégios de Sevilha para levar crianças que sofreram choques de calor”, segundo o engenheiro.
O sistema está em fase de construção no colégio e utiliza “uma pérgula que impulsiona o ar resfriado com água procedente de uma cisterna que temos na praça e resfriamos à noite. Também colocamos essa água no teto”.
Lucas Perea destaca que, no futuro, pode-se usar até água subterrânea para climatizar edifícios.
“Nós, em Sevilha, estamos a cerca de 10 metros acima do nível do mar”, segundo ele. “Existe muita água no subsolo, de forma que, quando se perfura um túnel de metrô, a água do lençol freático costuma se infiltrar. Por isso, existe um sistema de bombas para evitar inundações.”
“Uma das ideias que estamos analisando é utilizar essa água subterrânea, que atualmente segue para o sistema de saneamento, mas está a 20°C e é água limpa, para climatizar edifícios inteiros”, explica Perea.
Soluções baseadas na natureza
José Sánchez Ramos prevê que a adaptação às mudanças climáticas tornará ainda mais fundamental o papel dos engenheiros.
“Nós levamos os alunos de mestrado ao espaço de Cartuja Qanat para incutir no seu DNA que existem muitas soluções além das convencionais”, afirma ele.
“Existem soluções baseadas na natureza que já foram inventadas e precisamos reinterpretar e adaptar ao ano em que vivemos, de forma rentável e eficiente. Acreditamos que o papel do engenheiro precisa ser 100% de protagonista.”
Sánchez Ramos e seus colegas dedicaram três anos de experimentos para testar os sistemas de resfriamento antes da sua construção. Eles publicaram diversos artigos científicos.
“A universidade organizou um catálogo de soluções, ferramentas e todo o necessário para que, se um interessado quiser realizar uma intervenção em um espaço da sua cidade, do seu país, o trabalho duro já esteja feito”, segundo ele.
Para Lucas Perea, Cartuja Qanat é um exemplo do que Sevilha pode oferecer para outras cidades. “Atenas [na Grécia] já se interessou por estes sistemas de resfriamento porque tem um clima muito similar”, afirma ele.
“Nós somos uma empresa de capital público e não fazemos isso para patentear um sistema e ganhar dinheiro”, destaca Perea. “Nós fazemos para melhorar os serviços que prestamos e acreditamos que Sevilha, neste sentido, pode ajudar as outras cidades que mais sofrem os impactos das mudanças climáticas.”
Este texto foi publicado em www.bbc.com/portuguese/geral-63577931

Fonte: G1 Mundo

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Novos vistos de trabalho para morar em Portugal pode aumentar “exôdo” de brasileiros para o país


Lei agora permite emissão de vistos para brasileiros que trabalham de forma remota ou para os que que procuram emprego em solo português. Cerca de 670 mil brasileiros chegaram em Portugal entre janeiro e outubro
REUTERS – PEDRO NUNES
A chamada “Lei dos Estrangeiros”, de 2007, agora engloba dois novos tipos de visto de residência: o de “nômades digitais”, ou trabalhadores remotos, e o de busca de trabalho, para pessoas que esperam obter um emprego no país. A medida beneficia cidadãos dos países membros da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) que ainda vivem em seus países de origem.
Os dois tipos de vistos, que já estão em vigor, têm como objetivo facilitar a entrada de trabalhadores que falam português, principalmente brasileiros, que são a principal comunidade estrangeira no país – entre janeiro e outubro, cerca de 670 mil chegaram em Portugal, segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, órgão de imigração português. O governo espera, assim, amenizar o grave problema da falta de mão de obra em diversos setores, como construção civil, turismo e tecnologia, e acelerar o crescimento econômico.
Os novos vistos facilitam a obtenção de permissão para trabalhar e morar em Portugal, mas exigem a apresentação de alguns documentos e garantias, como comprovação de renda. O primeiro beneficia pessoas que trabalham à distância e tem validade de 1 ano, mas é renovável por até 5 anos.
Para obtê-lo, será necessário comprovar uma poupança de pelo menos três salários mínimos de Portugal, ou seja, cerca de € 2.800 euros, o equivalente a R$ 14.600. Além do comprovante de renda dos últimos três meses também é necessário apresentar o contrato de trabalho e a declaração da empresa para comprovar o vínculo empregatício. Para quem atua de forma independente, é necessário apresentar um contrato de prestação de serviços.
A permissão de residência para que familiares acompanhem o trabalhador exige uma renda mensal maior, explicou a advogada especializada em imigração, Vitória Nabas. “Neste caso, o valor aumenta em 50% para acompanhantes maiores de 18 anos e 30% para menores de idade”, explica.
Visto para procura de trabalho
O visto de procura de trabalho é válido por 120 dias e pode ser prorrogado por 60. Para solicitá-lo, o candidato precisa ter um representante legal em Portugal que se comprometa a arcar com todas as despesas durante toda a validade do visto ou comprovar uma poupança de cerca de R$ 11 mil.
De acordo com a advogada Vitoria Nabas, a obtenção do documento não deve demorar mais de três meses, mas a duração do processo está relacionada à demanda de cada país. Ela reitera que os brasileiros que já moram no país não podem beneficiar desse visto.
Para solicitá-lo, o candidato precisa estar no país de origem e só depois do pedido ser aprovado que ele terá acesso à documentação para entrar no país como residente, por um período inicial de 120 dias, no qual o estrangeiro também não poderá deixar o território português.

Fonte: G1 Mundo

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Após cinco anos de restauração, Big Ben volta a marcar o ritmo em Londres neste domingo


O relógio mais famoso do mundo é reinaugurado após reformas. O relógio do Big Ben é retratado durante a procissão cerimonial do caixão da rainha Elizabeth II do Palácio de Buckingham ao Westminster Hall
ASSOCIATED PRESS
Após cinco longos anos de restauração, o Big Ben de Londres, o relógio mais famoso do mundo, sairá oficialmente do silêncio no domingo (13) para marcar mais uma vez o ritmo dos dias na capital britânica.
Com seu imenso sino de 13,7 toneladas, o grande relógio que domina o Parlamento britânico retomará sua atividade normal após uma limpeza completa das mais de 1.000 peças que compõem seu mecanismo.
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Em agosto de 2017, uma multidão se reuniu em Westminster para ouvir os últimos repiques de seus cinco sinos de ferro fundido. Alguns até derramaram uma lágrima.
Muitos se reunirão novamente no domingo às 8h no horário de Brasília para ouvir mais uma vez o som deste símbolo de Londres: seu carrilhão de quatro sinos tocará a cada quarto de hora, enquanto o sino principal tocará a cada hora, como aconteceu nos 158 anos anteriores à renovação.
A data coincide com o domingo seguinte ao 11 de novembro, dia em que o Reino Unido comemora o armistício da Primeira Guerra Mundial.
Nos últimos cinco anos, o Big Ben tocou poucas vezes, usando um mecanismo elétrico substituto. A última vez foi para o funeral da rainha Elizabeth II, que faleceu em setembro.
Big ben em reforma em janeiro de 2018
ASSOCIATED PRESS
‘O som de Londres’
No alto da torre elizabetana de 96 metros do Palácio de Westminster, os sinos são protegidos por uma rede externa para impedir a entrada de morcegos e pombos.
De lá, a vista de Londres é espetacular, mas os três relojoeiros responsáveis pelo Big Ben não têm tempo para apreciá-la.
Ian Westworth, de 60 anos, e seus colegas estão ocupados finalizando os testes para garantir que tudo estará funcionando corretamente após uma reforma de 80 milhões de libras (US$ 93 milhões).
“O som de Londres está de volta”, diz Westworth à AFP durante uma visita ao campanário.
Alex Jeffrey, um dos três cronometristas em tempo integral nas Casas do Parlamento da Grã-Bretanha
JITENDRA JOSHI / AFP
“Esses sinos tocaram atravessando as guerras”, ressalta, impressionado com todas as transformações da cidade testemunhadas por eles.
A “torre elizabetana”, o novo nome dado à torre do relógio em 2012 por ocasião do jubileu de diamante da monarca, foi construída na década de 1840.
Naquela época, sem tráfego, ou arranha-céus, “em uma noite tranquila você podia ouvir (o Big Ben) a até 24 quilômetros de distância”, lembra o relojoeiro.
Imitar as luzes vitorianas
A restauração envolveu a limpeza e a pintura dos braços e martelos, mas os sinos não se moveram.
O sino principal, o Big Ben, é tão grande que para movê-lo seria necessário levantar todo piso da torre do sino.
162 / 5.000 Resultados de tradução A presidente da Câmara dos Comuns da Grã-Bretanha, Lindsay Hoyle, visita o Big Ben antes de voltar ao horário de Greenwich (GMT), em Londres, Grã-Bretanha, 27 de outubro de 2022
via REUTERS
A parte mais complicada foi desmontar o mecanismo do relógio de 11,5 toneladas, que remonta a 1859, para limpá-lo.
Além disso, 28 luzes LED agora iluminam os quatro mostradores do relógio, com cores que variam do verde ao branco para se assemelhar aos lampiões a gás da era vitoriana.
Outra luz branca maior foi colocada acima dos sinos para indicar quando o Parlamento está em sessão.
Uma multidão observa um minuto de silêncio em homenagem à rainha Elizabeth II na ponte de Westminster em frente ao Big Ben, domingo, 18 de setembro de 2022, em Londres, Inglaterra
ASSOCIATED PRESS
Antes da reforma, os relojoeiros verificavam a precisão da hora usando seus telefones. Agora, o relógio é calibrado por GPS.
Já o método de acertar a hora continua muito tradicional: moedas antigas são usadas para adicionar, ou subtrair, peso das molas do relógio gigante, permitindo que um segundo seja ganho, ou perdido.
Na torre do sino, durante os testes, é preciso usar tampões e protetores de ouvido para proteger seus tímpanos a cada nova hora em ponto.
São sete da manhã, e o Big Ben – um símbolo de estabilidade em um caótico contexto político britânico – ressoa sete vezes com um estrondo.
Embora ensurdecedor, o inconfundível som também é um sinal de estabilidade, após anos de grande turbulência política no Reino Unido.
O palácio de Westminster, um impressionante complexo gótico às margens do rio Tâmisa, também precisa de uma grande reforma, mas as disputas políticas sobre seu alto custo atrasaram o processo.
Enquanto isso, Westorth e seu colega Alex Jeffrey, de 35 anos, continuam concentrados em seu trabalho: cuidar dos 2.000 relógios do Parlamento britânico.
“É o melhor trabalho do mundo”, diz o mais novo.
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Fonte: G1 Mundo

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Guerra na Ucrânia: como retirada russa de Kherson pode abalar imagem de Putin


Durante anos, Putin foi visto como um mestre estrategista e um vencedor. Agora, o Kremlin tenta distanciá-lo do maior revés militar recente da Rússia na invasão. Vladimir Putin comemorou anexação declarada de regiões ucranianas em setembro
GETTY IMAGES
Como a mensagem mudou.
Logo depois que a Rússia invadiu a Ucrânia, os apresentadores de programas de TV aqui estavam prevendo com confiança que em poucos dias as tropas russas estariam marchando por Kiev.
Isso foi há quase nove meses.
Esta semana, os mesmos apresentadores anunciaram a “difícil decisão” do Exército de retirar as forças russas de Kherson – a única capital regional ucraniana que a Rússia conseguiu capturar e ocupar desde a invasão do país em 24 de fevereiro.
Apenas seis semanas atrás, o presidente Vladimir Putin afirmou ter anexado a região de Kherson, juntamente com outros três territórios ucranianos, insistindo que eles seriam parte da Rússia para sempre.
“Eu queria que nossa bandeira estivesse hasteada em Kiev em março”, disse o âncora Vladimir Solovyov aos telespectadores de seu programa.
“Foi doloroso quando nossas tropas se afastaram de Kiev e Chernihiv. Mas essas são as leis da guerra… estamos lutando contra a Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte].”
É exatamente assim que o Kremlin está tentando retratar tudo isso: culpando o Ocidente. A mensagem da mídia estatal russa é que, na Ucrânia, a Rússia está enfrentando o poder combinado dos Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia e Otan.
Em outras palavras, os contratempos no campo de batalha não são culpa do Kremlin, mas obra de inimigos externos.
Há outra mensagem também: não critique o Exército russo ou o presidente da Rússia pelo que deu errado na Ucrânia. Em vez disso, cumpra seu dever e junte-se à luta.
É um conselho que, por enquanto, vozes russas proeminentes e poderosas parecem estar seguindo.
O líder checheno, Ramzan Kadyrov, e Yevgeny Prigozhin, fundador do grupo mercenário Wagner, têm criticado abertamente a liderança militar russa. Mas sobre a retirada de Kherson, ambos postaram mensagens de apoio ao comandante russo na Ucrânia, o general Surovikin, que havia recomendado a retirada.
O mesmo não pode ser dito dos blogueiros militares russos pró-guerra. Eles estão escrevendo mensagens raivosas, como:
“Nunca esquecerei esse assassinato das esperanças da Rússia. Essa traição ficará gravada em meu coração por séculos.” – Zastavny.
“Esta é uma enorme derrota geopolítica para Putin e a Rússia… o Ministério da Defesa perdeu a confiança da sociedade há muito tempo… agora, a confiança no presidente vai desaparecer.” – Zloi Zhurnalist.
Não se o Kremlin puder evitar, porque tem se esforçado para distanciar o presidente Putin da retirada, sabendo que muitos na Rússia a verão como um revés militar e um golpe duro contra o prestígio russo.
No início desta semana, foram os generais que anunciaram que as forças russas seriam retiradas de parte da região de Kherson.
A TV russa mostrou o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, emitindo a ordem, após consultas com o general Surovikin. Putin não estava à vista em lugar algum.
O general Surovikin (esq.) disse que a retirada, ordenada pelo ministro da Defesa (dir,) foi uma decisão difícil
MINISTÉRIO DA DEFESA DA RÚSSIA
“O ministro da Defesa tomou a decisão, não tenho nada a dizer sobre isso”, disse o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, a jornalistas na sexta-feira (11/11). O Kremlin está deixando os militares assumirem a responsabilidade pela retirada. Ou pelo menos tentando.
Mas foi Putin que ordenou a invasão da Ucrânia. O que ele chama de “operação militar especial” foi ideia dele. Distanciar-se de qualquer aspecto ligado à invasão não será fácil.
Há um perigo aqui para Vladimir Putin, mas que antecede a retirada de Kherson. Os acontecimentos dos últimos nove meses correm o risco de mudar a forma como o presidente é visto em casa: não tanto pelo público russo, mas – crucialmente – pela elite russa, pelas pessoas ao seu redor, pelas pessoas no poder.
Durante anos, eles viram Putin como um mestre estrategista, como alguém que sempre consegue sair por cima… como um vencedor. Eles o viram como o eixo central do sistema do qual fazem parte e que foi construído em torno dele.
Vitórias, no entanto, estão em falta desde 24 de fevereiro. A invasão de Vladimir Putin não saiu conforme o planejado.
Não só resultou em morte e destruição na Ucrânia, mas perdas militares significativas para seu próprio exército. Ele havia prometido que apenas “soldados profissionais” lutariam, mas depois convocou centenas de milhares de cidadãos para as Forças Armadas para participar da guerra.
Os custos econômicos para a Rússia também foram consideráveis.
O Kremlin costumava retratar Vladimir Putin como o “sr. Estabilidade” na Rússia. Isso se tornou muito mais difícil de emplacar.
Texto originalmente publicado em www.bbc.com/portuguese/internacional-63611690

Fonte: G1 Mundo