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Por que a civilidade ainda é importante na política

Independentemente de sua afinidade partidária, é difícil negar que a política tenha se tornado menos civilizada nessa última década.

Talvez graças às redes sociais, que nos deram acesso mais direto aos pensamentos das pessoas no poder, nunca antes um presidente dos EUA foi tão regularmente descrito por oponentes como “desonesto”, “louco”, “psicótico” ou “mentiroso”.

Até que ponto essa onda de insultos prejudica a imagem de um político diante do público? Ou simplesmente fortalece sua base de apoio?

Tomemos como exemplo um episódio que intensificou as divisões políticas dos EUA: a audiência na qual o juiz Brett Kavanaugh, nomeado para a Suprema Corte, respondeu a acusações de agressão sexual.

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Na ocasião, Christine Blasey Ford acusou Kavanaugh de tentativa de estupro em um forte testemunho. Kavanaugh adotou um tom agressivo contra Ford. Após a audiência, ele defendeu seu discurso, classificando-o como “lúcido” e “muito emotivo”.

Posteriormente, pesquisas de opinião da consultoria Gallup mostraram que não houve mudança na percepção de americanos que eram a favor ou contra a confirmação de Kavanaugh na Suprema Corte americana. Mas houve uma forte queda no número de pessoas indecisas. Kavanaugh foi confirmado no cargo pouco mais de uma semana depois.

Ou seja, no clima de hostilidades atual, talvez não seja mais necessário puxar o freio no tom do discurso.

Jeremy Frimer, da Universidade de Winnipeg, e Linda Skitka, da Universidade de Illinois, em Chicago, exploraram se isso é verdade. Seus resultados, publicados recentemente no periódico Journal of Personality and Social Psychology, um dos mais importantes do meio, são surpreendentes.
Princípio de Montagu

Frimer e Skitka examinaram duas hipóteses. A primeira foi chamada de “Princípio de Montagu”, em homenagem à aristocrata inglesa do século 18, Lady Mary Wortley Montagu, que proferiu a famosa frase: “civilidade não custa nada e compra tudo”. Por esse princípio, a indelicadeza prejudica a percepção que se tem de um político.

A segunda é a “hipótese da carne vermelha”. O insulto pessoal seria como “jogar carne” – ou satisfazer – seus apoiadores. Por essa lógica, apoiadores perceberiam comentários incivilizados como críticas autênticas e honestas que representam seus próprios sentimentos. Na polarização política atual, essa estratégia apelaria para a falta de confiança que que os fãs obstinados de políticos têm sobre seus adversários.

Frimer e Skitka conduziram uma série de experimentos, incluindo análises da influência dos tuítes de Donald Trump em pesquisas de opinião pública e questionários online. Curiosamente, os pesquisadores concluíram que quanto mais agressiva era a linguagem de Trump, menor a aprovação dos participantes. E em casos em que ele demonstrava respeito, sua imagem melhorava.

Uma parte crucial do resultado mostrou que o “princípio de Montagu” – e não o da “Carne Vermelha” – se provou verdadeiro até mesmo entre os apoiadores de Trump.

E isso valia inclusive quando o político respondia a críticas contra sua imagem – uma situação em que teoricamente ele estaria mais justificado a reagir à altura. De forma geral, parece que o público prefere que políticos evitem uma linguagem rude e que não respondam a insultos.

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