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Rogério 157 anuncia rompimento com Nem em áudio obtido pela polícia: ‘Quem fala agora é o Paizão’ Comente

Rogério 157: “Mandou dar tiro na gente. Então não é mais nosso amigo. Não é mais nosso patrão. Papo é reto. Quem fala agora é o Paizão”.

Traficante 2: “Nosso patrão é 157. Quem for contra vai entrar na vala”.

O diálogo entre o traficante Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, um dos pivôs dos confrontos armados na Rocinha, e outro criminoso é um dos áudios obtidos pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, que investiga o racha entre ele e o ex-chefe do tráfico da Rocinha, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem. Capturado em frequência de rádio, o áudio indica, segundo investigadores, que Rogério trocou de facção criminosa após o rompimento com Nem, da ADA (Amigos dos Amigos).

De acordo com a investigação, neste e em outros áudios, Rogério deixa claro para seu grupo que rompeu de vez com o antigo aliado. Ex-segurança de Nem, Rogério 157, cuja recompensa por pistas que levem à sua prisão aumentou para R$ 50 mil, tornou-se seu inimigo ao se recusar a cumprir determinação de lhe devolver o controle das bocas de fumo. Mesmo preso, Nem segue dando ordens de dentro da penitenciária federal de Porto Velho (RO).

No último dia 17, Nem teria mandado invadir a Rocinha para retomar o controle do tráfico no local, o que provocou confrontos na região, ocupada por 950 militares das Forças Armadas na última sexta-feira (22). Familiares de Rogério 157 chegaram a negociar sua rendição com a Polícia Federal, mas o traficante teria desistido após o cerco militar por medo de ser morto em confronto.

A polícia diz que Rogério chegou a deixar a Rocinha, mas voltou à favela na madrugada de sábado (23). Um grupo de criminosos rendeu um taxista que relatou ter ido buscar o traficante no Horto, no Jardim Botânico, para levá-lo de volta à favela da zona sul. O motorista disse à polícia que, durante o trajeto, ouviu os suspeitos chamarem Rogério de “pai”, mesma forma como o traficante se intitula no áudio.

O táxi se deparou com o cerco das forças de segurança. Houve confronto, mas os criminosos conseguiram fugir. Além de Rogério 157, a polícia diz que seu braço direito, o traficante Jaílson Barbosa Marinho, o Jabá, estava no carro. Cerca de duas horas depois do incidente com o táxi, criminosos do mesmo bando, que estavam na mata do Horto, renderam um motorista na rua Pacheco Leão, também no Jardim Botânico, com a mesma ordem de seguir para a Rocinha. Três bandidos foram presos.

O principal motivo da briga entre os traficantes, segundo informou ao UOL o chefe da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes), delegado Carlos Eduardo Thome, foi a criação de “taxas de serviço” para moradores e comerciantes. Os tributos instituídos pelo comando de Rogério 157 que, além da taxa que permite a operação dos mototaxistas, aplicam-se à distribuição do gás de botijão, à venda de água, entre outros serviços, causaram a fúria de Nem, que era conhecido pelo perfil assistencialista.

“O Rogério 157 estava implantando uma verdadeira milícia na favela da Rocinha. E isso, a facção, o chefe do tráfico, que é o Nem, não concordava. A partir daí, começou o desentendimento entre os criminosos”, disse Thome. Apenas a cobrança dos mototaxistas rendia R$ 100 mil por mês a Rogério 157.

Agora, a polícia investiga se o grupo do traficante passou a integrar o CV (Comando Vermelho) –maior facção do Rio de Janeiro.

Desde o início do cerco militar, bandidos têm usado a região de mata, que circunda a comunidade e leva à floresta da Tijuca, para deixar a Rocinha e se deslocar para comunidades ligadas à nova facção, como no caso dos morros do Borel, da Formiga, do Salgueiro, localizados no bairro da Tijuca, zona norte da cidade.

Floresta da Tijuca é usada como rota fuga

O articulador cultural Júlio Barroso estava a caminho do Rock in Rio no início da tarde do último sábado (23) quando se deparou com pelo menos cem homens com armas de calibres variados. Ele resolveu ir para a Cidade do Rock, em Jacarepaguá, pela estrada do Sumaré, que corta área de mata e integra o maciço do Parque Nacional da Tijuca, também dá acesso ao Cristo Redentor.

Barroso relatou ter visto “um comboio de carros, picapes e caminhonetes, todos cheios de caras armados. Parecia o [filme] Mad Max: Estrada da Fúria. Fiquei surpreso que eram 14h de sábado e pela forma ostensiva”.

Após a ocupação da Rocinha por homens do Exército, os confrontos se estenderam à floresta da Tijuca –a quarta maior área verde urbana do país. Pela mata, traficantes têm acesso a pelo menos 14 bairros da cidade.

Ainda no sábado, criminosos que escapavam do cerco da Rocinha trocaram tiros com policiais na Tijuca e no Alto da Boa Vista, na zona norte carioca. Nesta ação, quatro criminosos foram detidos e três suspeitos morreram. Um adolescente foi baleado em meio ao confronto.

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