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ESPORTE

Síria mantém vivo o sonho de disputar sua primeira Copa

Nada é simples para a Síria, que mantém vivo o sonho de jogar na próxima Copa do Mundo 2018 graças a um gol no último minuto dos acréscimos. A façanha ocorreu em Teerã, onde a seleção síria abriu o placar no primeiro tempo, mas chegou ao final do segundo perdendo de virada dos iranianos (que já carimbaram o passaporte para a Rússia com o técnico Carlos Queiroz, ex-Real Madrid). Foi quando veio o gol de empate (2 a 2), marcado por Omar al-Soma, um atacante duas vezes artilheiro da liga saudita – outro exilado de um país que pulsa na diáspora.

A Coreia do Sul garantiu sua vaga no Mundial após um empate fora de casa, no Uzbequistão. A Síria agora enfrentará a Austrália na repescagem asiática. Se superar essa eliminatória, deve pegar o quarto classificado da Concacaf, a Confederação de Futebol das Américas do Norte, Central e Caribe. Pode ser que haja um duelo entre a Síria e os Estados Unidos, valendo a viagem para Moscou.

A Síria nunca disputou uma Copa do Mundo, nem passou da primeira rodada da Copa da Ásia. Ficou só na vontade em 1985, quando o Iraque a eliminou das eliminatórias para o Mundial do México. Dois anos depois, chegou mais longe ao sediar os Jogos do Mediterrâneo, superando a França na final. Seu passado está repleto de derrotas, e seu futuro não existia quando a FIFA decidiu não autorizá-la a disputar os jogos em suas habituais sedes de Damasco e Aleppo, há seis anos, época em que estourou o conflito bélico. O futebol então se transformou numa alegoria do destino para o povo sírio, pois a seleção teve dificuldade de encontrar refúgio. Primeiro jogou em Omã. Depois lhe disseram que podia jogar como equipe local no Catar, no Líbano e em Macau, mas os jogadores foram sucessivamente rejeitados até conseguirem se instalar na Malásia, onde peregrinaram por dois lugares durante a atual fase de classificação.

Ninguém pôde ganhar deles em seu lar malaio. Durante esse percurso, a seleção se fortaleceu com o regresso de alguns de seus jogadores mais destacados, que haviam se negado a integrá-la por considerarem que o futebol era a marionete de um regime acusado de cometer crimes de guerra contra os próprios cidadãos. Foi o caso de Firas al-Khatib, um atacante que joga na liga do Kuwait e eleito o melhor jogador do país. Em julho de 2012, ele jurou que não voltaria a vestir a camiseta síria enquanto houvesse em seu país armas prontas para disparar. Em março deste ano, contudo, aceitou a convocação. Seu retorno foi interpretado politicamente por todas as partes, embora o jogador insista que só quer ajudar a realizar um sonho esportivo.

Nem todos entenderam a atitude de al-Khatib, capitão da equipe no histórico jogo de Teerã. “Volto por uma decisão que tem a ver com o futebol, não com a política. A seleção nacional é das pessoas, não só dos políticos, e quero ajudar meu povo a ser feliz”, explicou ao regressar. O atacante nasceu em Homs, cidade situada entre Damasco e Aleppo que se tornou um dos símbolos da guerra síria graças às imagens da destruição e à comparação com seu passado próspero. Há um ano, circularam notícias sobre Jihad Qassad, ex-companheiro de al-Khatib na seleção e também natural de Homs. Ele morreu numa prisão controlada pelo regime.

Equipe local num estádio deserto, com quase todos os jogadores no exílio e muitos companheiros mortos, desaparecidos ou exilados, a Síria escreve uma epopeia inesperada em que a FIFA desempenha um papel singular. Alguns dos jogadores mais importantes do país denunciaram o que entendem como um apoio do órgão máximo do futebol mundial ao regime de Bashar a-Assad. O campeonato local prosseguiu, embora transformado numa espécie de simulacro, com partidas só em Damasco e em meio a denúncias de manipulação de propaganda. A bola gira numa vã tentativa de oferecer pão e circo, mas agora oferece um grande sonho para um povo devastado. Milhares de pessoas se esqueceram da miséria da guerra para se congregar diante de telas gigantes em Damasco, presenciar o jogo e comemorar os gols de sua seleção.

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