Passada a confirmação de que Vadão é o novo técnico da seleção brasileira feminina, enfim se iniciou um movimento que já era aguardado desde a demissão de Emily Lima. Enquanto a craque Marta não se posicionava (agora ela já o fez, sem sair do muro), outras jogadoras que já têm seu nome na história do futebol feminino do Brasil iniciaram um movimento de boicote à equipe. Nas últimas horas, três delas anunciaram que não defendem mais a equipe da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
O boicote foi iniciado na quarta por aquela que talvez seja a maior centroavante da história do futebol feminino do Brasil: Cristiane. Com quatro Olimpíadas no currículo, ela recorreu às redes sociais para anunciar sua aposentadoria. “É a decisão mais difícil que tomei na minha vida profissional até hoje. Pensei durante muitos dias, não me manifestei até agora. Falei com minha família, com meus amigos, escutei vários pedidos para que eu pensasse, mas eu não vejo outra alternativa por todos os acontecimentos e por coisas que já não tenho forças para aguentar. Hoje, se encerra meu ciclo na seleção brasileira”, anunciou em seu Instagram.
Nesta quinta, outra jogadora de renome fez o mesmo: a meia Francielle, de apenas 27 anos, que atua no futebol da Noruega. Atleta da seleção brasileira nas últimas três edições dos Jogos Olímpicos, ela citou a decisão de Cristiane para explicar que estava seguindo o mesmo caminho. “Torço para quem for ficar colha bons frutos, se é que é possível ainda”, disse ela, também no Instagram.
Horas depois, uma terceira atleta ampliou o movimento: a lateral-esquerda Rosana, do PSG, de 35 anos. “Diante das circunstâncias e adversidades dos últimos acontecimentos, sinto que as atletas não têm voz, e querer expor um ponto de vista mexe com a vaidade e ego de muitos. Muito se pede para que as atletas se manifestem e reivindiquem. E sim, acho que deveríamos fazer isso, mesmo depois de uma tentativa fracassada como no pedido de permanência da comissão da Emily”, escreveu Rosana na mesma rede social.
Ela continuou: “Entendo que muitas meninas ali, junto com os seus familiares têm um sonho. E protestando algo, têm medo que esse sonho seja abortando abruptamente, por não saberem a força que teriam juntas. Sempre me posicionei, por vezes, somente internamente, outras em público. Me posicionava, porque sempre pensava no que eu poderia ganhar e não perder. Sim. Sofri retaliação, e o sonho ficou no modo abstrato. Mas deixei de ser conivente com o errado. E é por isso, que estou abdicando mais uma vez de um sonho. Não temos força e nem voz. E isso, um dia cansa. Fica aqui o meu desejo para que pessoas que amam e tratam a modalidade com carinho e respeito, ocupem cargos de expressão dentro do futebol feminino brasileiro, e que as atletas ganhem corpo e voz, na briga incessante pela modalidade.”
Entre as pessoas envolvidas com atletas do futebol feminino, a expectativa é que, nas próximas horas, mais atletas sigam o mesmo caminho. Na primeira passagem de Vadão pela seleção, a equipe recebeu o maior investimento de sua história, mantendo uma seleção permanente, e mesmo assim foi eliminada nas oitavas de final do Mundial de Clubes e ficou apenas na quarta colocação nos Jogos Olímpicos do Rio.
Vadão não agradava à enorme parte das jogadoras e foi substituída por Emily Lima, que, por sua vez, rapidamente ganhou a confiança do grupo, abrindo as portas da seleção para novas jogadoras. Ela, entretanto, foi demitida após quatro derrotas, sendo três para a Austrália (duas delas em amistosos este mês) e uma para os Estados Unidos. Antes, havia sido campeã de um torneio amistoso em São Paulo.
Antiga capitã da seleção, Juliana Cabral foi uma das críticas da decisão. “Voltamos ao futebol da individualidade, ligação direta e ao churrasco”, postou no Twitter, cobrando mais atitude das jogadoras. “Hora de as atletas se manifestarem. Chega de medo de retaliação.”