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Wanderlei revela depressão, promete surra em Sonnen e elogia Cris Cyborg

“Cachorro Louco” volta a lutar neste sábado, depois de mais de quatro anos longe do cage, e garante que vai castigar desafeto americano na luta principal do Bellator 18

Neste próximo sábado, Wanderlei Silva voltará ao cage depois de exatos 1332 dias distante de uma luta profissional. Foi no longínquo dia 3 de março de 2013 que o “Cachorro Louco” fez sua última luta no MMA, ainda no UFC, quando venceu Brian Stann. Agora, o desafio será encarar o desafeto Chael Sonnen, em nova casa: o Bellator. O brasileiro e o americano farão a luta principal do card de número 180, na mítica arena do Madison Square Garden, em Nova York.

Em entrevista exclusiva ao Combate.com, Wanderlei não escondeu a ansiedade por voltar a lutar e revelou ter passado por um período de depressão quando pendurou as luvas.

Wanderlei Silva; Bellator 180 (Foto: Evelyn Rodrigues)Wanderlei Silva fará sua luta de número 50 neste sábado, contra Sonnen (Foto: Evelyn Rodrigues)

– Realmente foi muito difícil esse período fora. Imagina qualquer trabalho que você tenha: você acorda e tem sua rotina, e eu tinha minha rotina desde os 13 anos. Acordava, ia para a academia, tinha um próximo oponente, um próximo evento, e de repente acabou. Acordava de manhã, tinha uma casa bonita, carro, dinheiro, mas não tinha o que fazer. Viajava bastante, tinha bastante seminários, mas isso é um bico, não é um trabalho fixo. Nunca fiquei sem lutar. Então, tive um período muito difícil, tive muita depressão, fiquei em casa… Mas tive um grande suporte da minha esposa, dos meus filhos. Dava uma aula aqui, uma aula ali, mas não tinha algo fixo para fazer. Foi realmente um período muito difícil. Essa volta aos ringues tem sido para mim como uma grande terapia.

Ao falar do hiato na carreira, Wand lembrou a desavença que o fez deixar o Ultimate e anunciar a aposentadoria, em setembro de 2014. À época, ele fugiu de um teste antidoping surpresa justamente antes da luta contra Sonnen – com quem fez o TUF Brasil 3 -, e então começou uma batalha contra a organização e seu presidente, Dana White.

– A aposentadoria foi uma aposentadoria entre aspas, forçada. Me desentendi com o antigo dono do evento, rolou tudo aquilo, e parei com 49 lutas. E o pessoal perguntava: “Por que parou?”. Parei porque não estava mais a fim de lutar para aquela organização. O pessoal fala: “Qual o meu sentimento por Dana White?”. Dana White é um grande empresário, e quando dois leões se encontram rola briga, e rolou um desentendimento normal. Respeito ele, é um grande empresário, mas ficou melhor cada um na sua. E ele teve uma grande atitude de me liberar do contrato para que tocasse minha vida, e deixar o Wanderlei Silva fora dos ringues é um crime. Logo que tive a liberação do antigo evento, o Bellator e o Rizin já entraram em contato comigo e me fizeram ótimas propostas para voltar a lutar. Me foi oferecido para lutar no final do ano, mas em dezembro não pude, não estava pronto ainda devido à minha lesão, e agora no meio do ano deu a arena certa, o oponente certo e agora estou aqui.

A primeira luta profissional de Wand foi em 1996. Exatos 21 anos depois, ele atingirá a marca de 50 lutas na carreira, que tem 35 vitórias, 12 derrotas, um empate e uma luta sem resultado. O duelo com Sonnen é encarado por ele como um recomeço.

– Estou muito emocionado. Acho que o oponente está à altura, a arena não poderia ser melhor. Chamam o Madison Square Garden como a “arena mais famosa do mundo”, do mundo das lutas, voltar fazendo uma luta principal é um grande teste. Estou há quatro anos fora, estou treinando, treinando bem, mas treino é treino e luta é luta, e sei disso. Quando você entra para valer, a emoção é outra. Já lutei em várias arenas do mundo todo desde os meus 13 anos, arenas pequenas e arenas gigantescas, e estou encarando isso como um recomeço, uma reestreia, e estou encarando também como um presente que estou dando para os meus fãs. Esta vai ser minha luta de número 50, no Madison Square Garden. Garden é jardim (em inglês), é o jardim dele, porque óbvio, o americano é muito patriota, por isso que o (Donald) Trump se elegeu. Tenho certeza que aqui vai rolar um grito de “U-S-A”, mas aí no Brasil sei que vai estar todo mundo torcendo por mim, mandando aquele pensamento positivo. Wanderlei Silva está de volta para realmente fazer a alegria do povo (…). Quero agradecer a torcida de todos vocês, espero que vocês vejam o combate de sábado. Vou lá surrar o Sonnen, na casa dele! Aqui a torcida pode ser dele, mas sei que você aí (no Brasil) vai torcer para o Silva.

Wanderlei Silva e Chael Sonnen TUF Brasil 3 (Foto: Reprodução/ TUF Brasil 3)Wanderlei Silva e Chael Sonnen brigaram durante as gravações do TUF Brasil 3 (Foto: Reprodução/ TUF Brasil 3)

A luta com Chael Sonnen é um capítulo à parte na história de Wanderlei Silva. Os dois trocaram farpas durante todo o TUF Brasil 3, em 2014, e chegaram às vias de fato, quando o americano chegou a derrubar o brasileiro durante uma briga nas gravações. O Cachorro Louco não esqueceu de nada disso, e promete “cobrar a conta” logo mais.

– A hora que fechar a grade, a gente vai ver qual é. Vamos resolver essas desavenças, e sem dúvida essa luta é um grande presente para o público, é uma das últimas rivalidades reais que a gente vê no mundo do MMA. O pessoal fala: “Mas tudo aquilo era verdade?”. Claro que é verdade, e quem começou foi ele, quem encostou a mão primeiro no outro foi ele, foi ele que me empurrou, que me derrubou lá na frente de todo mundo. Na verdade, ele é quem está devendo para mim, e vou acertar essa conta no sábado. Vai ser uma luta imperdível. Vai ter a luta do Fedor, duas disputas de título, então está um evento imperdível. O Bellator é tido como o segundo maior evento do mundo (no MMA), mas está todo mundo dizendo que no sábado, com a luta do Wanderlei Silva, vamos ser o número 1 – prometeu.

No bate-papo, Wand ainda fez elogios a Cris Cyborg, declarou que gostaria de enfrentar Fedor Emelianenko no futuro e se disse satisfeito com o reconhecimento dos lutadores mais jovens.

Confira outros trechos da entrevista de Wanderlei Silva:

“A Cyborg é o Fedor do MMA feminino”

Cris Cyborg e Wanderlei Silva (Foto: Reprodução / Instagram)Cris Cyborg ganhou muitos elogios de Wanderlei Silva: “A maior lutadora de todos os tempos” (Foto: Reprodução / Instagram)

– Nada mais justo do que a Cyborg disputar agora esse cinturão do UFC. Ela deveria ter começado na categoria dela (no peso-pena) e terem começado por ela (a divisão), porque ela é a maior lutadora de todos os tempos. Ela é o Fedor das mulheres, faz dez anos que não perde, a única luta que ela perdeu até eu que estava no córner. A gente colocou ela para lutar e a garota estava no chão e chutou a Cyborg, ela caiu no chão e machucou o braço. A Cyborg acabou perdendo, tadinha. Depois disso, ela teve uma carreira avassaladora, é a melhor de todos os tempos, é uma mulher que deixa até a gente mal de cabeça. A gente acorda e às 11h vê o Instagram da Cris e ela já fez ferro, manopla, jiu-jítsu, wrestler e já está indo fazendo uma corridinha (risos). Para vocês verem que, quando uma mulher quer, uma mulher decidida, uma mulher determinada, ela dá de dez no homem. E a Cyborg é a prova disso. De todos os atletas que conheço, e conheço muitos atletas, a Cyborg sem dúvida é a que mais treina. Não é que ela é um fenômeno, mas ela treina, o segredo é esse. Quem aguentar fazer o que ela faz, vai ser tão bom quanto. Ela é malvada também, pega as gurias e desce o sarrafo (risos). Até gostei muito da atitude dela com essa garota que se folgou com o marido dela, que ela foi lá e “arrancou” o dente da guria.

Possível luta com Fedor Emelianenko

– Isso é uma coisa que estava me perguntando esses dias. Na época que eu era tido como melhor do mundo e ele também, o pessoal falava: “Por que você não lutou com ele?”. Porque essa luta nunca me foi oferecida, nunca ninguém falou: “Quer lutar com o Fedor? Luta com o Fedor”. E, sem dúvida, acho que seria uma luta interessantíssima, aceitaria lutar com ele, porque é um cara que respeito, é uma lenda, e quero me testar. Lutar com os grandes que ainda estão na ativa é um presente para os fãs. Estava com o Royce (Gracie) agora de manhã, e falei que vi o Royce lutar com o (Ken) Shamrock, e dizem “Ah, a luta não foi tudo aquilo”, mas vi os caras lutarem, vi os caras entrarem no ringue, os caras se digladiando na idade deles. Isso é uma coisa que está acontecendo mais agora, e estou muito feliz de poder ver que está sendo dado um bom palco bom para nós, que estamos conseguindo fazer os grandes clássicos. Quando o cara consegue chegar nesse patamar – estou com 40, vou fazer 41 anos – e consegue estar competindo, realmente é algo que tem que ser visto. E espero ter a performance que realmente o pessoal espera. Estou muito bem treinado, estou saindo na mão com a rapaziada. Faz seis meses que estou tomando amasso na academia (risos), agora vou me vingar do meu oponente no sábado. Mas considero (Fedor) o melhor de todos os tempos. Nessa luta agora vai pegar um cara mais jovem, o oponente dele não é bobo, é tão grande quanto ele, é uma luta dura, e ele está aí botando a cara para fazer. Quando o cara tem o saco de continuar treinando e competindo, a gente tem que realmente enaltecer.

Legado e reconhecimento dos ídolos atuais

– Se for deixar algum legado é o da raça, da perseverança, da força de vontade. Eu fico muito feliz de os ídolos de agora, Jon Jones, Georges St-Pierre, chegarem para mim e dizer: “Comecei a treinar por causa de você, comecei a treinar vendo suas lutas”. Vejo lutadores novos copiando estilo, dizendo que querem ser iguais ao “Cachorro Louco”. Acho que fui um dos primeiros atletas a lutar e virar estrela junto com Sakuraba, na época Pride, um dos maiores eventos do mundo. Fui um dos primeiros a ter a vida toda dentro do ringue, isso é uma coisa difícil, mas não é qualquer um. Por isso que fico muito feliz quando vejo a rapaziada jovem indo ali e fazendo o seu melhor. Gostaria muito de ver o nosso esporte chegar no patamar que merece. A gente deu um “up”, aí dá uma descida, a gente fica nesse sobe e desce e vejo muita gente com 30 anos já parando. Vê o cara lutando e, de repente, está com o carro quebrado, numa academia pequena… Não é nesse patamar que queria ver o esporte. Queria ver a rapaziada bem, cuidando da sua família, com academia bonitas, ou com o burro na sombra, com o pé de meia feito. Tem muita coisa que os lutadores de MMA têm que aprender, e uma delas é aprender a lidar com o dinheiro. Meu pai dizia que o dinheiro foi feito para guardar. O cara ganha US$ 50 mil dólares e depois compra um carro de US$ 40 mil. Aí se aperta e vende o carro por US$ 20 mil. Você tem que guardar o dinheiro porque não sabe o dia de amanhã, você não sabe quando vai lutar. Não existe carreira mais incerta que a de lutador. Você luta agora, perde duas, três e não sabe o que vai acontecer com você. Toma um azar, uma invertida como aconteceu com o José Aldo, mas o Aldo é o Aldo, junto com o Fedor são os melhores da história, e aconteceu o que aconteceu. Se o Aldo não fez o pé de meia dele, o que acontece? E o Renan Barão? Ganhou 32 lutas seguidas e ficou rico, ou não ficou? A gente tem que aprender com o erro e acerto dos outros. Se for deixar um legado é que aprenda a usar bem o seu dinheiro, compre um terreno, faça uma casa… Nesses quatro anos que fiquei parado ninguém foi bater na porta e perguntar se eu estava precisando de alguma coisa, e as contas continuam chegando. Graças a Deus, sempre fui muito mão de vaca, quem me conhece sabe disso, economizei todo o dinheiro que ganhei, e posso agora lutar porque gosto.

Existe um lado positivo do Sonnen?

– Achei bonito o filho dele, vi o filho dele por aí esses dias, para não dizer que não gosto de nada dele (risos). Na verdade, tirando a rivalidade em si, o cara se promove bem. A gente não pode menosprezar ninguém, mas dentro do nosso meio o cara começou a se promover, começou a promover melhor as lutas e isso é bom para nós. Tenho uma rivalidade pessoal, mas temos que pegar o que tem de bom. O da vez agora é o McGregor, que sabe promover a luta dele, sabe mexer com o oponente na hora certa. Você que é lutador, realmente se for te dar uma dica, nós não somos pagos para ser educados, somos do bairro, somos da vila, como a gente chama. Vamos ser polidos agora? Não. Se você tem um oponente, olha no olho. Fala, com toda a educação, que você vai quebrar a cara dele. Não custa nada, é um jeito de você apimentar a luta, de realmente fazer as pessoas quererem ver o seu combate. Você tem que encarar a luta com seriedade, olhar seu oponente e falar: “Agora é o seguinte, vou te pegar!”.Fechou a grade, o mais difícil nós fazemos, que é sair na mão. Para que a gente cresça, a gente tem que ter mais audiência. Para ter mais audiência, cada lutador, de cada evento tem que saber fazer sua parte. Em todas as áreas. Se for copiar alguma coisa dele, fale a coisa certa na hora certa.

Chael Sonnen Wanderlei Silva Encarada Bellator 180 (Foto: Evelyn Rodrigues)Chael Sonnen e Wanderlei Silva já se desentenderam na coletiva do Bellator, na quinta-feira (Foto: Evelyn Rodrigues)

Acidente e acerto com o Bellator

– Tive um acidente gravíssimo quando fui atropelado de bicicleta no Brasil. Estava andando de bicicleta na América, na Califórnia, e aí levei a bicicleta para o Brasil e achei que era a mesma coisa. Comecei a andar de bicicleta no Brasil até comprar um carro, e realmente isso que é muito triste. No Brasil, as ruas são muito estreitas, e o cara passou e me atropelou e foi embora. Foi um imprevisto, acho também que ninguém atropela por querer, o cara pode ter se assustado e saiu correndo. Viu que era o Wanderlei Silva e saiu correndo (risos). Mas realmente tive uma lesão no ombro e no joelho, por isso que não lutei em dezembro. E por isso que é bom ter amigos. O pessoal do Japão (do Rizin) me ofereceu e eu estava machucado, mas estava voltando a treinar, não estava 100%, e meu professor falou: “Mas você vai sair da lesão para a luta?”. Falei: “Mas o pessoal está pedindo…”. Ele disse: “Mas não tem como, nesse momento não tem como, tem que treinar melhor”. Recusei a luta, me ofereceram uma grana muito boa, e fui testado na minha ganância. Se entro ali e faço a luta, ganhando ou perdendo ia receber a bolsa, mas isso não seria justo, nem comigo e nem com meus fãs. Demorou tanto tempo para ter esse legado e todas as pessoas que me seguem! Tenho que estar, no mínimo, em condições de fazer uma boa apresentação para vocês, e é isso que vou fazer agora no sábado.

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