Corpo fechado”, Vanderlei inspirado e miolo mais compacto ajudam o Peixe na Libertadores. Mas o time não pode nem precisa sofrer tanto, por mais que jogue com vantagem do primeiro duelo
Por Renan Cacioli, São Paulo
O Santos entrou em campo para enfrentar o Atlético-PR, na última quinta-feira, pela Libertadores, com excelente vantagem trazida do jogo de ida (3 a 2). Isto explica a postura reativa ou a tentativa, ao menos, de executá-la. O problema foi acreditar que apenas deixar o tempo passar bastaria para confirmar a vaga. Ela veio e com nova vitória, por 1 a 0.Mas, definitivamente, o resultado não traduz a realidade do confronto.
O Peixe contou com enorme dose de sorte, competência de Vanderlei e um raro contragolpe bem executado. Deu certo desta vez. Mas pode não ser o suficiente na briga pelo seu quarto título do torneio.
O maior problema dos santistas no primeiro tempo foi a distância entre as linhas e o buraco que isso deixou – muito bem ocupado pelo Furacão.
Alison e Yuri precisavam recuar mais para buscar a bola. Não o fizeram e, invariavelmente, esperavam pelo passe já à frente da linha central do campo. Com isso, o Atlético-PR avançou simplesmente seis peças, conforme é possível ver no campinho acima. Além de sufocar o Peixe, o Furacão matava qualquer tentativa de contragolpe, a principal razão de ser da tática idealizada por Levir Culpi para o confronto.
O vídeo abaixo é um bom exemplo disso. Repare como o Santos retoma a bola, mas, com os jogadores muito distantes uns dos outros, erra o passe – foram 46 ao todo, segundo dados do Footstats, contra 30 dos paranaenses – e perde a chance de contra-atacar.
Com linhas bem mais próximas, o Atlético-PR não só se recompunha rapidamente na marcação como a saída de jogo era mais tranquila. Para deixar bem claro, veja as duas imagens abaixo.
A primeira mostra uma transição defesa-ataque do Furacão:
Thiago Heleno, na imagem frisada com a bola, tem quatro boas opções de passe. A sequência da jogada é com Matheus Rossetto. Lucas Lima e Ricardo Oliveira são tímidas interferências para o oponente.
Agora vamos a uma imagem congelada do Santos:
David Braz vai receber de Lucas Veríssimo. Ao virar para frente, o que ele vê? Os dois volantes lá próximos da intermediária, atrás dos marcadores. Olhe o vazio entre a linha defensiva do Peixe e a faixa por onde caminham Yuri, Alison e Copete. Lembra do campinho lá em cima? É o tal buraco que o Atlético-PR ocupou. A saber: na sequência do lance, Braz precisou arriscar o lançamento para o lado direito.
O que o Levir fez para consertar isso?
Mexeu já no intervalo, é claro, depois de ver Vanderlei fazer três difíceis defesas e Lucas Veríssimo afastar uma finalização de Sidcley já em cima da linha. O treinador sacou Yuri e colocou Jean Mota. Um volante marcador por um meio-campista mais ofensivo? Em uma partida na qual o time tomava sufoco? Sim, o que Levir queria era ganhar em qualidade na transição que não funcionava, certo?
Olhe em outra imagem congelada a diferença de posicionamento:
Além de Jean Mota recuar quase até os zagueiros para buscar a bola, Alison também apareceu mais para servir de opção. O Peixe melhorou bastante e achou o seu gol em um contragolpe, enfim, bem articulado.
Aqui é bom ressaltar: o gol saiu aos 32 do segundo tempo, quando o Atlético-PR já havia acusado o cansaço. Afinal, seria impossível manter tamanho volume de jogo durante 90 minutos.
Mas só isso explica o placar? Claro que não. Vanderlei ainda precisou trabalhar bastante – foram cinco intervenções difíceis ao todo –, Jonathan cabeceara uma bola na trave pouco antes do gol de Bruno Henrique, Guilherme perdeu chance incrível dentro da área…
É onde entra a dose de sorte do Santos, o único time invicto ainda nesta Libertadores. Repito: a vaga, o resultado, tudo isso merece e deve ser comemorado. E é natural, em um mata-mata, a equipe que larga com vantagem “jogar com o regulamento debaixo do braço”, como se diz. Mas o Peixe não pode nem precisa sofrer desse jeito. Que sirva de lição para as partidas contra o Barcelona de Guayaquil, pelas quartas de final.