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As três derrotas de Temer

Como esperado, o presidente Michel Temer sofre as consequências de sua insistência em transformar seu governo numa guerra pela permanência no poder. Em viagem à Rússia, perdeu batalhas em três frentes.

Na primeira, a frente jurídica, Temer foi acusado de corrupção passiva no relatório preliminar da Polícia Federal (PF), parte do inquérito aberto contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF), “por ter aceitado promessa de vantagem indevida, em razão da função”.

A PF sustenta tal acusação com base na indicação do ex-deputado Rodrigo Loures como intermediário, feita por Temer ao empresário Joesley Batista. Loures foi depois flagrado recebendo R$ 500 mil em propinas. “Resultam incólumes as evidências que emanam do conjunto informativo formado nestes autos, a indicar, com vigor, a prática de corrupção passiva”, afirma o relatório da PF.

Em depoimento à PF, o doleiro Lúcio Funaro, que também negocia delação premiada, confirmou a narrativa dos executivos da JBS. Afirmou que Temer pediu, em troca da aprovação de financiamentos, duas “comissões”, que somaram R$ 20 milhões, desviados do Fundo de Investimento do FGTS. Elas foram, segundo Funaro, destinadas à campanha à prefeitura paulistana em 2012 e presidencial em 2014.

Na segunda frente, a opinião pública, o juiz Marcus Vinicius Bastos, de Brasília, rejeitou a queixa de Temer por calúnia, injúria e difamação contra Joesley, pelas declarações que deu em entrevista à revista Época no último fim de semana. “Não há como identificar na conduta do querelado (Joesley) a vontade específica de macular a imagem de alguém”, escreveu Bastos em sua decisão.

Finalmente, na frente legislativa, Temer sofreu a primeira derrota na tramitação de seu pacote de reformas. O texto do senador Ricardo Ferraço para a nova legislação trabalhista foi rejeitado por 10 votos a 9 na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado (foto). Das três derrotas, é a mais relevante.

Não se deve exagerá-la: Temer ainda conta com amplo apoio entre os parlamentares. Na Câmara, mesmo que haja dúvida sobre sua capacidade de mobilizar os 308 deputados necessários para aprovar a reforma da Previdência, ele tem hoje, tranquilamente, os 172 votos exigidos para barrar qualquer denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) originada no inquérito policial.

Mesmo que alguns senadores governistas, como Sérgio Petecão (ausente), Hélio José, Otto Alencar e Eduardo Amorim (contrários), tenham contribuído para a derrota da reforma trabalhista na CAS, isso está longe de significar o fim do projeto, cuja aprovação cabe ao plenário do Senado. Mas a derrota põe em questão a outrora inabalável força do governo no Parlamento.

Temer continua a usar a pretensa capacidade de aprovar seu pacote de reformas para fazer pressão por sua permanência no cargo diante de políticos e empresários. Mas é evidente que sua preocupação maior hoje no Parlamento não são os votos para as reformas – e sim os necessários a evitar que se torne réu no STF.

Os partidos aliados resistem a encarar tal fato. Em seu movimento de hesitação eterna e incapacidade crônica para fazer escolhas difíceis, o PSDB adiou ontem mais uma vez a decisão sobre sua permanência no governo. Prefere esperar o que o STF tem a dizer sobre a autorização para a prisão do senador Aécio Neves.

É como se já não houvesse provas suficientes contra Aécio no inquérito policial derivado da delação da JBS, que flagrou a entrega de R$ 2 milhões em propina a pedido dele. Qualquer partido sério já o teria expulsado e rompido com o governo. Ao vendar os olhos para os fatos e proteger Aécio, o PSDB, que pouco tempo atrás protestava tanto contra a corrupção no PT, toma o rumo do próprio patíbulo.

No vácuo de decisões da cúpula, parlamentares começam, individualmente, a abandonar o barco do governo. É por isso que a votação de ontem na CAS tem importância. Por ora, pode ser apenas um Renan aqui, um Petecão lá, um Amorim acolá. À medida que o caso contra Temer ganha corpo nos tribunais e na imprensa, a debandada ganhará volume. Ninguém quer, tão perto de uma eleição, estar associado a um governo tão impopular.

Se o PSDB demonstrar um pingo de coerência com o que dizia no passado e abandonar o governo, Temer estará mais isolado. Para ele, que precisa de apenas 172 votos na Câmara para se safar, isso não necessariamente significará a queda da Presidência. Para o país, que precisa com urgência das reformas e tinha esperança de que este governo as levaria a cabo, a crise política que o engolfou é uma tragédia.

fonte: G1

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